domingo, 2 de setembro de 2012

A hipocrisia maior


A maior das hipocrisias é o que a maioria de nós mostra no dia a dia. Sim, claro. E de repente, com pressa organizam um protesto para pedir paz após a morte dos jovens. Eu não vou ser o próximo? Isso nem se quer chega a ser uma mensagem inteligente. Você pode até não querer ser o próximo, acho que nenhum de nós quer ser, mas não ser? Qual de nós sabe se vai ou não ser o próximo? Infelizmente tragédias aconteceram e vão continuar acontecendo. Qual é a raiz do problema? O presidente da Bolívia?! Falta de segurança?! A iluminação do 21?! A incompetência dos PM?! Pena de morte já?! Ninguém pensa que a raiz do problema pode estar em nossos pais, que há muito tempo nos criam já com um preconceito para com pessoas do "outro mundo". Seis mil pessoas iam se juntar para caminhar pela paz? Sério? O pior é que não dá nem para dizer que é uma caminhada pela saúde com um percurso tão limitado. Fiquei sabendo que foram pouco mais de 2 mil... E na página da caminhada vi esses e outros dizendo: "Bandido bom é bandido morto" ou "Espero que tenha uma morte lenta, sofrida e dolorosa". A verdade é que todos caminham pela paz, mas se colocassem o assassino ali no meio, ele seria linchado. Sim, alguns, e me arrisco a dizer, que um número considerável de pessoas, iriam fazer questão de fazer o serviço. Quem se importaria em sujar as mãos com sangue? E isso faria de vocês o que? Justiceiros? Continua tudo sendo hipócrita. Como parar esse ciclo vicioso de ódio? Nos matamos desde que morávamos em cavernas. Quanto dos que caminharam deixaram de ir no show do Thiaguinho por medo? Quantos não voltaram dirigindo totalmente ou parcialmente alcoolizados? Quantos dormiram após essa noite 'louca' e perderam a caminhada? Quantos vão deixar de frequentar boates e bares pelo ocorrido? Por favor, pelo amor de Deus, seja lá qual for o seu Deus, pare com isso. Certeza que você sabe? Se você sabe que o movimento é contra a violência, pense agora o nome de 10 pessoas que morreram nos últimos dois meses. Não conseguiu, certo? Deixa eu te dizer. Novembro do ano passado, quando eu me chocava extremamente pela morte de um jovem conhecido, que acabou morrendo em um caso claro de imprudência no trânsito, e não violência, visto que só havia menores no carro, e o condutor do veículo estava alcoolizado, eu estava distraído no serviço, e não conseguia parar de pensar sobre isso. No dia da tragédia chorei horrores. Onde estava a tal justiça? Quantos meninos no carro e por que nos tiraram só um? Se todos estavam juntos, todos deveriam ir ou ficar juntos. Parecia e ainda parece tão injusto. Como dizer a uma mãe que somente o filho dela não sobreviveu? Eu, precisando desabafar acabei contando o motivo. Um dos mirins que estava perto, primeiro, não soube o que fazer, e depois soltou um riso leve, como se minha indignação fosse algo quase sem razão de existir. Ele havia perdido 7 amigos mortos por tiros, e 2 amigos mortos por facadas. Quantos de vocês que caminham contra a violência podem ter escutado sobre algo assim no jornal e terem passado batido? Alguém caminhou pelo vigia que foi queimado durante o serviço dele? Aposto que muitos de vocês nem sabiam que isso tinha acontecido. Quantos de vocês criticaram o trabalho dos policiais mesmo tendo achado os culpados menos de 24 horas depois do ocorrido? Agora todos são incompetentes, tudo é perigoso, e todos são negativos como eu sempre fui. Alguns dizem que eu sou negativo, mas eu prefiro dizer realista.


Nossa, 5 ou 10 mil pessoas vão me criticar? Dane-se. Essas 5 ou 10 mil pessoas deviam estar fazendo algo melhor. Mobilização pela paz? Paz? A ONU tentar alcançar a paz, minha avó e o Papa também. Não acham que estão colocando no prato mais do que podem comer? O que deveria ser feito é uma mobilização na alma, na cabeça, e no coração de cada um. Talvez até uma mobilização no caráter, o que acham? Ah! Sou só eu contra a maré de novo? Eu já estou acostumado, e por mais que você queira me fazer insignificante, eu não sou. Pelo contrário. Eu penso antes de caminhar, e não caminho antes de pensar. Quem nasce pobre, nasce pobre, e não bandido. Conheço um menino pobre, que tem o coração mais puro que eu já vi. Vocês já viram alguém sem maldade? É, zero. Provavelmente o mundo vai tirar isso dele, mas é um cara especial. Quando eu o levei com mais dois amigos mirins num bar, eles todos acharam o meu celta um carro muito bom, ficaram impressionados. Onde vivemos algumas mulheres deixam de olhar para você se você tem um celta. É, pessoal. Você que leu ficou horrorizado ou envergonhado? Pense bem antes de responder. Levei-os a uma lanchonete em um ponto frequentado pela classe média/alta. Todos por ali olharam feio, com exceção de um garçom que nos atendeu de uma forma muitíssima educada. Ei, você? Como olha quem não se encaixa no seu mundinho perfeito? Ignora, olha feio, ou não se incomoda? Ignorar é fingir não existir. Não se incomodar, significa que você realmente não liga se pessoas de outra classe social estão invadindo sua rodinha. De repente todos se tornaram justiceiros. Faz dois anos que eu escrevo sobre justiça, e as pessoas dão risada, ironizam. Agora, a justiça é a palavra da vez, é a palavra que buscam para encontrar o conforto. Deixa eu explicar. Justiça é uma palavra para viver, e não para lembrar. Não entendeu? Você tem que ser justo todos os dias e em todos os aspectos da sua vida. Não é só quando a desgraça vem que você vai lembrar dessa palavra. Nem tudo tem motivo, e nem pode ter explicação. A morte. Podiam ter levado qualquer um, mas por quê eles? O maior dos mistérios resolvido que nunca cansa de nos surpreender, de nos machucar, de nos deixar para baixo. Quando o sofrimento vai nos deixar?


Não vai. Eu espero que Deus tenha misericórdia. O seu Deus, o meu Deus, ou o Universo, que seja. Não importa quem está olhando por nós, mas o importante é que esse alguém ainda está. Qualquer um pode perder a vida a qualquer hora. Triste saber que continuar vivo não dependa de nós, mas e aí? Está tudo se arruinando. A inocência foi assassinada, ninguém mais está seguro, e nós só queremos saber de arranjar culpados. É o reflexo da covardia. Culpar os outros por um erro que pode ser seu. Leia novamente, eu disse pode, e não deve. Aqui muitas pessoas que gostam e admiram minhas idéias, não as curtem, porque simplesmente seria muito para o orgulho delas reconhecer um desafeto. O que nos resta, então? Mobilização? E eu ainda ouvi um imbecil, idiota, dizendo que os pobres não sabem se manifestar insinuando que não sabem porque são burros. O cara que disse isso é um total idiota! Um completo babaca que não sabe de nada! Pobre nem tem computador, quem dirá poder para mobilizar multidões e enfrentar coisas que eles não tem condições de enfrentar sozinhos. Agora você, imbecil, vai perguntar o que eu faço pelo mundo, mas eu não quero entrar no meu mérito pessoal. Não quero me gabar, ou me expor tanto assim, mas tenho noção e consciência de que o meu esforço é gigantesco para cumprir a minha parte, e faço isso porque acho que é necessário, e não para ter o que falar, porque ter o que falar também é coisa de babaca. Eu vou continuar tentando consertar esse mundo quebrado, e essas pessoas quebradas. Quem sou eu? Só mais um desses caras que sonha em viver em um lugar melhor, em mudar o mundo. De que adianta você ter um diferencial? Na página da Caminhada contra a violência e pela segurança e pela paz (que nome de efeito!) eu postei o link do blog de um dos meninos que morreu, o Leonardo. Vocês pensam que alguém leu? Ninguém hesitou em deletar o link, pois acharam que eu estava criando polêmica. A caminhada é pelos garotos, mas quando alguém oferece a oportunidade de ler as poesias de um deles, saber pelo menos um pouco de como eles se sentem, de como eles pensam, as pessoas simplesmente deletam? Eu pensei que caminhariam por eles, mas se ninguém está preocupado em ler as idéias do menino, que sentido faz essa caminhada? Pessoas egoístas preocupadas em satisfazer seus próprios egos. Ignoraram o blog do menino, e ficaram digitando insistentemente "Caminhada pela paz", "Caminhada contra a violência". Respeitem os mortos! E tentem pelo menos começar a respeitar os vivos também. Vi gente se reunindo e fazendo pose em fotos da caminhada. E aí? Sorrir, unir o grupo e tirar fotos? Combina com um protesto, ainda mais quando no final da tarde você vai poder atualizar as fotos no seu facebook, e mostrar pra todos que você estava lá. Uau! Parabéns! Vocês estiveram  lá... E agora? E daqui 30 ou 40 dias? Onde vocês vão estar exibindo orgulhosos suas novas fotos? Vocês são egoístas de verdade, e queima meu coração, e me dói muito saber disso. E que fique aqui registrado que eu não me conformo pelo vigia, pelo casal, pelo piloto, pelo homem que foi baleado na periferia no meio da semana, pelo José, pelo segurança da Pub que foi morto e que alguns que estavam nessa caminhada ainda defenderam o assassino, pelo Leonardo e pelo Breno, e por todos que se vão assim, de repente, por todo o mundo. Eu não fico chocado só quando acontece com o meu vizinho. Esse é o mundo, pessoal. Se vocês precisam de tudo isso para vê-lo, eu não sei o que posso dizer. Se vocês estão chegando agora, descobrindo agora, só me resta lhes dizer: Sejam bem vindos. Boa sorte. Boa vida.

Obs: Deixo aqui novamente meus lamentos e sentimentos as famílias. Espero que vocês possam encontrar conforto e paz. E quanto ao Leonardo e ao Breno, espero sinceramente que estejam muito bem e muito felizes, seja lá onde estiverem. Fiquem com Deus.

http://www.youtube.com/watch?v=JI-o25K6B-E&feature=relmfu

sábado, 1 de setembro de 2012

A vez do poeta

Como dizer algo sobre a morte de dois jovens? Não tem muito o que dizer. Só espero que Deus possa cuidar destes e dos outros que se vão assim, tão de repente, de uma maneira tão cruel, deixando um vazio na vida de muitas pessoas. Não os conhecia, mas cada vez que sei de algo desse tipo sinto um inexplicável aperto no meu coração que sufoca tanto que até dói. Eram tão novos... Um deles era poeta. Poetas também morrem. É uma pena que só vamos valorizar as coisas destes quando se vão. E agora? Como é que vai ser? Se você não sabe, eu vou te dizer. Existe um pequeno segredo. O poeta sempre vive através de suas palavras, através de suas poesias. Hoje o meu blog não é meu, talvez seja de um louco, talvez seja de um gênio, mas com certeza é de um poeta.


*A flor da montanha



O Dia está no fim
E ele ainda pode voltar
Dane-se o que vão pensar
Porque ele ainda pode voltar
O maior causo de todos

E de que falava mesmo?
Ah, sim, de voltar
Mas mais importante
Que voltar ou não
É ter a possibilidade
De voltar

Mas nunca se pode voltar
Mas imagine só as possibilidades!!
De se esfumaçar por lembranças
Em um quarto vazio
Onde minha perna titubeava
E eu a balançar
No quarto escuro onde
Eu ascendera a luz
No fim de um dia
Longo e sem tempo

E de que falava mesmo?
Ah, sim, de possibilidades
De Pessoa
Que se cruzava na rua subida
Questionando a realidade
De um papel distante e passado
Atônito à perplexidade de si
Se perguntando sobre o céu
Atras da rapariga que olhava
De baixo da janela

Inspiração ou sentido?
Que faço de mim?
Nestes versos tão simples
Tão rasos e ventos ao cabelo
Numa paisagem ampla
Que distancia o olhar
E da linha ao que se pensa
Sobre qualquer cosia
Tudo sobre o que há
A mais no mundo

Sobre
Os ventos que regam
De flores o chão das árvores
Pra ver se entendamos
De que se trata tudo isso
Mas mais importante
Que compreender o sentido
É o verbo
Que se parece com o vento
Que só é enquanto sopra

E só sopra enquanto é

Mais importante
Que compreender o sentido
É entender o entender
De apenas ser enquanto é

E de que falávamos mesmo?
Ah, si, nem sei eu mais
Acho que de poesia
Que só é enquanto sopra
Apenas poesia
Como ventos a rugir
E versos a clamar

*Dia de Sombra

O homem do peito vai quente
Segue sem jeito, sem gente
Com cara de sol e doente
Mordido de si em si mesmo
Como não sabe o que rege
E mutilando seu couro
E quente vai, sorridente
Batendo no peito sente
Bicho de raiva, me invente
Uma alavanca de luz.

Eu to estressado. Sei lá...
Mas não há ponto que prega
Todas quimeras que voam
Deixando azedo todo o ar
E cadê tudo de mim?
Eles estão todos longe
Então sou pouco, bem pouco
Sou quase nada, um broche
Que fura o peito de faca
Será que é o tempo fechado?
Espero que sim. Vem, sol,
Vem destapar essa sombra

*O sol sobre o mundo


Hoje acordei com os olhos mais atentos à beleza das coisas
E tudo tinha brilho
Era um toque de detalhe a mais
Acho que sou um louco, caro amigo
E quem me dera o ser
Vendo uma fantasia em cada som, cada traço
Vendo uma estória todos os dias
Acho que sei o quanto isso é bobo, meu caro
Mas hoje eu só quero escrever
Você entende o que eu digo?
Eu entendo o que você diz
Acho que sou um gênio
Arrancando uma lucidez de cada fio da realidade
Mas talvez isso também seja ilusão
Recebendo hormônio no cérebro como qualquer um na rua
E alterando, assim, meu estado de espírito
Ou então o mundo realmente me tem um brilho a mais
Talvez haja purpurina em meus olhos
Não, acho que sou apenas um poeta
Tentando fazer magia de onde é seco
Inventando estórias sobre tudo ao seu redor
Infantil e capenga como muitos poucos
Poetas idiotas achando que fazer verso é dádiva ou epifania


É, sou apenas um poeta
Talvez louco, talvez gênio
Mas apenas um poeta



Aí está. Poesias de autoria de Leonardo Batista Fernandes. O meu blog cede espaço para divulgar a visão de um garoto que via este mundo cruel de um jeito muito bonito, talvez até mais bonito do que ele seja. Agora estamos todos chorando, todos com raiva, todos ansiando por justiça. Espero que com isso a palavra justiça se torne parte da rotina das pessoas em todas as áreas da vida e não só no momento do desespero. E que essa justiça prevaleça e seja feita, e que você Leonardo Batista Fernandes, junto com o Breno Luigi Silvestrini de Araújo, possam, seja lá onde vocês estiverem encontrar conforto e paz. Meus lamentos e sentimentos as famílias.


http://tabacariapodepimenta.blogspot.com.br/ - Blog do Leonardo. 


Postagem homenageando todas as pessoas que se vão assim, de repente, vítimas de um mundo injusto e imprevisível, que quando nós menos esperamos, sempre está disposto a nos pregar uma peça. Descansem em paz, todos vocês.