terça-feira, 22 de agosto de 2017

História Antiga

Essa é uma história
Guardada na memória
Contada em um tempo antigo

Em toda sua glória
Ele foi alvejado implacavelmente
Por um grande amigo

Em sua busca de justiça
Abaixou a sua guarda
E na confiança cega 
Roubaram-lhe a arma

E ele não mais poderia revidar
De igual pra igual
Mas o homem valente luta ainda assim
Como um feroz animal

E sobrevive e sofre
Pelo tempo que está condenado a sofrer
Resiste, porém, e nega a morte
Porque anseia viver

Seus olhos estão vermelhos repletos de raiva e solidão
Mas quando vê Ele no espelho têm compaixão
Desiste da sua vingança e acredita
Que um dia haverá esperança
Até para a gente maldita

Admite que mesmo resignado por uma vontade maior
Sua raiva não passou completamente
E reflexões de um tempo melhor
Passam-lhe pela mente

Nós carregamos trevas e luz
Por qualquer que seja
O caminho que nos conduz

E em todas as pelejas

Feliz ele se livra de um destino
Que terminaria em solidão e tristeza
Tudo poderia ser diferente
Se lhe faltasse um pouco de destreza

Mas a resiliência falou mais alto
E tudo acabou bem 
Exceto para aquele que até o final
Agiu com tanto desdém 


Sempre se glorificava por seus atos
Caçador de ratos
Da mente obscurecida

Você se lembra?
Eu queria ser como você
Mas hoje posso ver
Você não vale sua comida.


Quanto valem as suas opiniões e conceitos? Quão fracas são suas conclusões e quão rápido cede ao preconceito? O mundo não é um lugar fácil de viver e todos sofrem muita pressão, mas tantas coisas boas estão acontecendo aqui, bem no meio desse furacão. Eu já não tenho do que reclamar. Devagar e aos poucos vou encontrando qual é o meu lugar. Impressiona-me, porém, uma sensação que tenho. Sinto que nesta realidade só conquistamos pessoas ostentando nossa própria vaidade. Se eu te perguntasse, você me diria sinceramente, você é de verdade?

Enquanto as crianças brincam de imitar os adultos, alguns adultos tentam fingir que são mais do que apenas adolescentes. Os maduros riem das demonstrações fúteis e pavoneadas daqueles que não sabem nem mesmo o que querem para a própria vida. 

Fiquem bem. Boa noite!
Obs: todos unidos pela Michele campeã do MasterChef 2017? Sim!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Maegis


O rei Tristan parecia abatido sentado em seu trono. Cofiava a barba rala de seu queixo enquanto meditava sobre as possibilidades que tinha para solucionar seus problemas. A situação já era difícil o bastante, mas piorava mais e mais. O único conselheiro do rei que estava presente naquele momento era Trabu, e este o observava complacentemente. 

- O que foi? - Perguntou o rei, irritado. - Se você vai ficar me encarando com essa expressão esquisita, informo que prefiro ficar em minha própria companhia. Seu rosto é peculiar, mas não tenho apreço algum por observá-lo por mais que alguns minutos diariamente. 
- Majestade, concede-me a palavra? - Perguntou com polidez. Tristan sabia que o conselheiro traria mais notícias ruins, mas não havia como evitá-las
- Diga logo o que quer dizer, Trabu. São notícias de seus parentes, certo? Fale de uma vez. 
- Não só dos meus parentes, majestade, mas receio que eles também tenham que ser mencionados neste diálogo. 
- Ande, Trabu. O mundo está desmoronando enquanto perdemos tempo aqui, e dirão que a culpa é minha. Narre todas as novas notícias quais valham a pena! 
- Como ordena, majestade. Primeiramente, algo estranho está acontecendo há dois dias nas fronteiras da Floresta de Prontera com o Deserto de Morroc. Há relatos de que dois bruxos e uma criatura estranha estão impedindo a passagem de todos os transeuntes. Os mercadores se recusam a se arriscar por este caminho. - O rei esfregou as mãos, impaciente e irritado. 
- Eu tenho a impressão de que você não me contou tudo o que sabe, Trabu. Existem provas de que a criatura esteja realmente associada aos bruxos?
- Não, majestade, porém há mais uma informação que talvez mereça ser mencionada. Um mercador local disse que mesmo a quilômetros de distância foi capaz de escutar uma música lúgubre e hipnotizante. - Os olhos de Tristan se arregalaram e ele se levantou da cadeira.
- Maegis? - Perguntou ao conselheiro, e sua voz saiu gritada sem que percebesse. 
- Não podemos confirmar, senhor, porém a possibilidade é tão real como qualquer outra especulação. 
- Por que ela participaria de algo assim? - Tristan aos poucos estava perdendo o controle. Fechou os olhos e juntou as mãos. - Apak ce tu cen, kambo. Apak ce tu cen, kambo. Pio tera ce tu, cen. 
- Vossa majestade me espanta com seus conhecimentos diversificados. - Disse Trabu não sem alguma pitada de ironia na voz. Tristan abriu os olhos e parecia simultaneamente calmo e determinado. As palavras que havia pronunciado carregavam algum tipo de magia. 
- O conhecimento é algo que poucos almejam. Se me mantivesse cercado apenas pelos aprendizados humanos, eu jamais teria condições de ser um bom rei. Pratique a doutrina dos Memek Thu Lhen também. Aposto que não lhe faria qualquer mal. - Disse o rei e deu um sorriso matreiro. - Continue. 
- A doutrina deles não é para mim, mas continuarei os meus relatos como ordenou, majestade. Se a fronteira entre Prontera e Morroc se tornou impassável, a única rota alternativa e viável aos nossos mercadores é a Floresta Escura. Aumentarão o tempo de jornada em cinco dias para ir, e cinco para voltar. E é aqui que...
- É aqui que entram os seus parentes, certo? Os goblins moveram parte de seus exércitos para a Floresta Escura. Deste modo emboscam nossos mercadores, e todos os negócios que existem entre Prontera e Morroc ficam impedidos. Tendo toda esta situação em vista, creio que os goblins estejam aliados aos bruxos referidos, mas reluto em acreditar no envolvimento de Maegis nesta história. Nunca há diplomacia com os goblins, Trabu?
- Quase nunca, majestade. Geralmente resolvemos as coisas em combates simples mesmo em nossas próprias desavenças. Quem sobreviver será o dono da razão. - Tristan não conseguiu se conter e gargalhou alto. 
- Você é uma pequena exceção, meu amigo Trabu? - Perguntou retoricamente. - Convoque o Lorde Gilbratar e o Lorde Gales. Iremos até a fronteira com uma tropa notável. Algum dos Bruxos Reais se encontra em Prontera?
- Não, senhor. Temos Baemis e Keffer, magos estudando o ofício da bruxaria. 
- Merda... Tudo bem. Por que existem os Bruxos Reais se eles nunca estão quando precisamos? Situações urgentes pedem medidas urgentes. Quero Gilbatrar, Gales, Baemis e Keffer reunidos nesta mesma sala em duas horas. Localize-os, Trabu. Enquanto você faz isso, eu vou até a Ferraria. Há uma encomenda que preciso retirar. 
- Sim, majestade. 
- Nos vemos em breve. Obrigado pelos conselhos. Até logo!

O rei não esperou que Trabu lhe respondesse. De repente parecia cheio de ânimo e vigor. Ser rei tinha suas vantagens e desvantagens, mas ficar preso dentro de uma sala resolvendo questões burocráticas era deprimente. Ele odiava saber que a guerra era cada vez mais iminente, mas havia decidido que participaria da expedição ao deserto. Os conselheiros se demonstrariam totalmente contra. Para eles, o rei de Prontera deveria ser protegido e preservado acima de tudo, mas Tristan não seria vetado da jornada. Não existia qualquer pessoa do mundo que pudesse lhe tirar a chance de ver Maegis mais uma vez. Ele repetiu o nome em sua mente inúmeras vezes até que o som saísse de sua boca novamente. Seu coração batia rápido. Sua voz era uma súplica e uma oração. 

- Maegis...


E aí, galera! Só alegria? Escrevi na segunda-feira um trecho da história do rei Tristan III. Eis aqui uma breve continuação que fiz agora. Esta cena, porém, se passa antes do encontro de Tristan com o dragão. Espero que gostem! 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Dúvidas de Morte

O doutor havia ratificado a opinião do outro médico: eu morreria em breve. Cogitei que estivessem fazendo alguma piada dotada de um senso de humor perverso, que só os ascetas entenderiam, porém, parte de mim acreditava no que os homens contaram. Embora, de fato, seja crível ouvir que sua morte vem em breve, as palavras saem da boca de um desconhecido a quem você paga para preservar a sua saúde, e a ideia de saber da iminência da coisa sem a capacidade de alterá-la, só faz com que o crescente sentimento de impotência te mate antes de que você esteja morto. A inebriante sensação do vento no rosto já não tem o mesmo gosto. Era mais divertido quando por impulso tentava cortar os próprios pulsos e sentia o recente receio que consternava todos os alheios. Mas naquela época sempre havia um hospital. Sempre havia um anjo pecador qual evitava o mal final, e assim, brincando com a sorte, escapava da morte. A resposta e os olhares preocupados e hostis não eram mesmo assim capazes de extinguir o meu senso infantil. Embora ninguém pudesse me entender, eu sempre gostei do meu jeito de viver. 

Demonstrei o meu asco para com todos os réprobos; transformei objetos de todas as espécies em pequenas orbiculares só para cumprir com a obsessão da sensação de colocar o mundo inteiro em minhas mãos. Não queria todos aos meus pés, como muitos entenderam posteriormente. Queria colocar em pé todos os que muito sofreram. Mas é frequente nos tempos modernos a zombaria. Ridículo é se não quer o que todos queiram. Seu nome antes puro foi vituperado. Seu corpo ágil está todo machucado. O solecismo do mundo não te incomoda como antes. Os ímpios são a personificação da ironia dominante. Começamos seguindo os deuses e Deus, e veja no que isso deu. O velho arreliento lança pragas e desafios para os mais novos e deseja que morram lentamente. Os jovens não se vergonham de seu estado opróbrio. Riem do velho e lhe arremessam frutas podres. Meus olhos se prendem nesta cena por quase mil anos, e ainda não a compreendo. O mundo vai e vem, e gira sem parar, e mesmo com tantas voltas, ninguém sai do lugar. A maldita crença de que podemos fazer a diferença foi espalhada por infames professores. Taciturnos e bem vestidos, com incontáveis silogismos, querem falar sobre amores. Qual o epíteto que melhor descreveria os desgraçados? Os imbecis que fazem tudo querendo ajudar e nem são capazes de fornecer a si mesmos qualquer ajuda digna? É a incúria o mal da sociedade ou o caminho errado mais correto? Devemos abandonar aqueles que não fazem o que é certo? Não praticamos a misantropia sem saber? Fazemos o que determinam, brincamos com a nossa única vida (há controvérsias), e deixamos de fazer tudo o que deveríamos fazer por medo? O homem de preto sobe no palanque para mais uma cavilação, e mais uma vez ele será capaz de enganar toda uma nação. Aquele que erra encontra redenção? Tantas questões banais para se pensar antes de partir, e pela primeira vez simultaneamente invejei alguém e fiquei sorrindo. A única criatura de sorte é aquela que encontra a morte enquanto estava dormindo.  


Escrevi "Dúvidas de morte" há alguns meses, mas não houve interesse meu em partilhar antes. Este foi outro texto teste para que eu avaliasse se era capaz de utilizar palavras que não fazem parte do meu cotidiano. Ainda assim, espero sinceramente que vocês tenham aprovado o texto. Fiquem bem! 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Nossos Dragões

E aí, galera? Só alegria? Não vou divulgar essa atualização no Facebook e nem em outras redes sociais, pois não estou afim. Este trecho que inventei não está associado a qualquer dos livros que já escrevi e nem mesmo a qualquer ideia que tive nos últimos tempos. Foi só um exercício que fiz para treinar a minha técnica de escrita, e acho que posso dizer que foi satisfatório. Devagar e aos poucos, eu estou ficando melhor no que gosto de fazer. Espero que curtam este trechinho. Resolvi chamar de “Nossos Dragões” e é exclusivo para meus poucos leitores do Twitter. Obs: o nome Tristan me veio ao lembrar de Ragnarok, um jogo qual joguei muito na minha juventude, mas nada do texto está relacionado com o jogo.


Os olhos de Tristan encaravam a criatura gigantesca, mas só alguns instantes depois pôde se permitir a acreditar no que via. Um dragão maior do que uma montanha prostrava-se diante do cavaleiro. Os olhos de Tristan marejaram, e os pelos de seu corpo inteiro se eriçaram. O seu avô, Tristan I, havia dito que em uma de suas centenas travessias pelo Oásis de Freoni, vislumbrara a beleza e o terror de um dragão. Você não vai acreditar, briguento, mas o bicho era maior que tudo o que você já viu. Maior do que um grifo, maior do que um sapo-rei, e maior até do que os muros da capital das luzes. Eu estava com Samir, Beltenker, Himmurd, que Amon Rá os tenha, e Grass. Só Grass e eu estamos vivos nos dias atuais, ou, pelo menos foi o que me contaram. Beltenker faleceu há 15 anos, Samir na década passada, e Himmurd ano retrasado. Não tenho notícias de Grass desde o velório de Himmurd. 

Tristan esperava pacientemente que os rodeios da história de seu avô terminassem para que ele continuasse a descrição do dragão. Seu pai lhe ensinara que os velhos, apesar de lentos na fala, sempre tinham algo sábio a ensinar, mesmo quando não pretendiam que seu ouvinte aprendesse. Feroz, briguento. O dragão parecia feroz mesmo dormindo. Estava descansando a cabeça dentro do pequeno lago que havia no oásis, e protegendo seu próprio corpo com a cauda. A cauda, briguento, era tão longa a ponto de conseguir proteger-se em trezentos e sessenta graus. Só conseguiriam atacar o dragão pelo alto, mas quem seria suficientemente louco para atacar uma criatura gutural e temível? Eu não, e nem meus companheiros cavaleiros. Grass era o único mago da pequena companhia, e se demonstrou ainda menos curioso do que nós. “Não façam barulho. A audição de um dragão é mil vezes melhor do que a de um humano, e eles podem ouvir os pensamentos turbulentos também. Não o encarem muito. Sua pele esconde olhos que observam ao seu redor enquanto os olhos da face descansam. Não respirem muito forte perto dele. A respiração de um dragão puxa muito ar. Se ele sentir que mais alguém está puxando o ar, nós podemos estar encrencados”. É claro que nós cavaleiros seguramos o riso. Sabíamos que os magos eram sábios, mas excessivamente sistemáticos.

O velho divagou por mais um instante parecendo rememorar com pesar o seu passado que nunca mais retornaria. De repente seus olhos faiscaram com a lembrança. Gigantesco! Ficamos a observá-lo por uma hora ou quatro, quem sabe dizer? Sabíamos que presenciávamos algo mágico e não ousamos nos mexer. O dragão se revirou, e sem tomar conhecimento de que era observado, ou, sem se importar com isso, sentou-se por um instante antes de voar. Sua pele era negra e reluzente, e parecia que toda a extensão de seu corpo era pesada e resistente como placas de aço. Abriu a boca em um longo bocejo, e vi dentes que seriam capazes de destruir metade de um castelo em uma mordida. Seus olhos eram púrpuros e incandescentes, e por um milésimo de segundo estiveram em nossa direção. Prendemos a respiração, paralisados, como quem aceita que a morte em uma circunstância tão singular não é tão ruim, mas também como quem sabe não ter como reagir. O dragão não nos deu importância. A nossa vida não o interessava e deve ter imaginado, com razão, que cinco coisinhas não ajudariam a saciar sua fome. Bateu suas gigantescas asas e voou. Samir foi arremessado dez metros ao longe pela lufada de ar, e nós só não tivemos o mesmo destino porque nos agarramos firmemente em árvores. Ah, briguento... Quase ninguém acredita nessa história, e ninguém se importa mais. Os que viveram para ver já não estão mais entre nós, e a nova geração só bebe e engorda. A paixão pela aventura morreu. Você acredita no seu velho?

Tristan deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto. Na época em que escutara a história havia acreditado plenamente em seu avô, mas com o passar dos anos e o aperfeiçoamento no ofício de cavaleiro de Prontera, aprendera a distinguir os animais dos monstros e os monstros dos mitos. Um dragão não passava de... Verdade!  Os dragões eram mesmo reais. Este que estava defronte a ele não era o mesmo que seu avô vira meio século antes, mas era sem sombra de dúvidas um dragão. Grande como uma montanha, e com uma pele vermelha e incandescente que lembrava um vulcão. Tristan estava desnorteado demais para encontrar palavras para descrever o que observava.
- Espero que me perdoe, velho. Cresci e passei a achar que todas as histórias infantis eram criadas para fazer as crianças ficarem impressionadas. Ah! Eu estava tão errado, mas agora já não importa. Em algum lugar do outro mundo iremos nos encontrar, e falaremos sobre nossos dragões! Neste outro mundo é que decidiremos qual foi o mais majestoso e terrível! Descanse em paz, meu velho. – De repente Tristan estava cansado. Sentia o peso de suas quarenta e uma primaveras sobre os ombros. – O seu briguento ainda não tem filhos, e nem é um rei tão importante ou imponente quanto deveria ser. Como venceremos essa guerra, meu velho? Como mudarei o destino? – Tristan suspirou. – Não tenho as respostas que gostaria, mas saiba que o seu briguento vai até o final com isso. Pela linhagem dos reis, pela população, e por Prontera! Por nossos dragões não imaginados também... – Tristan sentou-se e ficou a observar minuciosamente a criatura. Sentia em suas entranhas que jamais teria outra oportunidade de contemplar uma lenda viva. Admirou a beleza do dragão até ser lentamente arrebatado para um sono profundo e sem sonhos. 
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Sei que o domingo e a segunda-feira já ficaram para trás, mas ainda assim desejo uma excelente semana para vocês! Vamos ser corajosos, bondosos, e se possível educados também! Fiquem bem! Um beijão!