segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Manhã de Natal

     O ventilador produz um som estranho que me faz lembrar uma galinha da angola. To fraco, to fraco, to fraco. Os tolos diriam que a tarde seria mais bela se fosse ensolarada e colorida, mas há dias que nasceram cinzas. Conforme os minutos passam, preguiçosamente devagares, lampejos de um azul enegrecido começam a buscar seu espaço no céu. Quem vê diversas cores neste dia é apenas um doido varrido. O mundo gira e ninguém sente. Todo mundo pira e quem é que não mente? Malabarismos com objetos delicados, ousados, arriscamos perder o que mais perto tínhamos de permanente. 

     A noite caiu e eu dormi jogado no sofá. Meu irmão disse que eu deveria ter ido na balada  com ele, mas ainda me sinto sonolento. O que é que tanto tento escrever? Somos tão apegados aos aniversários que às vezes nos esquecemos de sermos felizes o resto do ano. Hoje é aniversário do menino Jesus. Ao menos é alguém importante o bastante para reunir famílias felizes, tristes e quebradas ao redor de uma mesa. Quero transmitir algo interessante, mas a gata preta não quer me deixar escrever. O cachorro bicolor quer passear e me fita com esperança. Minha mãe dormiu e meu irmão resmungou antes de dormir. Para o que se vive?

     Compensei minhas faltas com excessos. Perdi-me em questões numéricas que costumavam ser fáceis. Eu que sou tão exato tenho sido tão humano, que desejo ser mais exato novamente e esquecer dessa humanidade pueril. A resposta para a vida, o universo e tudo mais é 42, mas qual era mesmo a pergunta? Cães latem, gatos pulam, aves voam, pessoas mentem. Todo mundo precisa de um pouco de amor, mas a gente mal sabe o que quer e de tanto não querer querendo e de querer não querendo, faz o que não quer para ter o que não precisa. Aí perde e noutro momento de repente a vulnerabilidade entra em destaque. Perde-se o que não poderia, mas se esquece que já ganhou o necessário. Às vezes a gente quer precisar do que não precisa. 

     Corri ao lado de dezenas de lagartas. Se tivéssemos mãos na época, andaríamos de mãos dadas, mas só havia o velho brilho nos olhos da compreensão máxima. Estou ao seu lado. O processo era incompreensível e com o tempo quase ninguém se mantém nas proximidades, muito menos ao lado. O entendimento escorria por mim. Nós bichos rastejantes forçamos o corpo contra o chão. E vamos agora, vamos um pouco mais. É claro que vamos! Meus colegas ganharam asas antes. Alguns viraram borboletas, outros mariposas e abelhas. Havia um que tinha um jeito de morcego e asas escuras, mas não soube dizer o que era. Por que só minhas asas não nasciam?

     Deve ser porque bebe muito café, assiste muitos "desenhos japoneses", não dá sentido à palavra FÉ e ainda vislumbra frequentar estádios ingleses. Ainda que me explicassem, eu continuava a arrastar o meu corpo. Morto-vivo, vivo e morto. Sabia que nenhuma Força me daria sequer uma mãozinha. Sabendo que a jornada é realizada sozinha. Compreendendo que de quando em quando nós fugimos. Estradas para locais seguros. Suspirei quando senti um formigamento. Demora, mas sempre chega o momento. Meu corpo planou quando bateu o vento. Atravessei a pior das tempestades, mas sorri ao contemplar meu tesouro. Por de trás do arco-íris, eu consegui pegar o meu pote de ouro. 

     O que há de especial na manhã de natal? Nada, mas para os que fogem de si mesmos e não gostam de refletir, o dia do natal não é um dia bom para existir. É tudo sobre quão especial era o menino Jesus? É tudo sobre quão abrilhantou o mundo sua luz? Não... É mais sobre amor e carinho. Num mundo cruel e fugaz, às vezes a gente só sente a falta que faz, quando ceia sozinho. Ano que vem tudo pode ser diferente, por favor, não se esqueça de valorizar hoje quem te ama de verdade e honestamente grita pela cidade o quanto sua falta é saudade. Um dia tudo se perde, mas hoje tudo está ao alcance. Feliz natal para nós todos! 


     Can you tell the difference about 
before, after and between?
     Can you explain me about
the little magics of the wind?
     Can you tell me what is your
most precious dream?

     Can you explain me about
why do we all stab the trust?
     In the end or in the start
We are no more than common stars 
Poor powder of dust.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Coisas Frágeis


     Andei em linha reta. Passo. Outro passo. O segredo é continuar caminhando, disseram. Eu ri, mas não desafiei a superstição. Passo. Outro passo. Não passo. Estagno. Recordações de tempos de amor invadem minha memória e eu transbordo. Soo como um louco, mas sou louco? Meu sorriso é largo e minhas lágrimas são como torrentes. Sou feliz e triste. A casa era tão cheia, havia tanto riso, o cachorro pegava o brinquedo e trazia. Por algum tempo havia até alguém para me chamar de amor. Tudo estava no lugar. Todos os nomes eram pronunciados corretamente. Amálgama do idealismo. Era possível captar o vislumbre de tudo e a verdade. A coragem não é para todos, sabem? É na realidade para os covardes como eu. Os que se enchem de paixão e fúria, mas se calam por entender o valor do que a maioria consente em ser ínfimo. Nada é ínfimo. A qualidade não está no peso ou no tamanho. Só se vê bem com os olhos vendados. Somos capazes de destruir tudo o que amamos.

      Quando notei, eu estava parado em frente a um lugar antigo. Sou um colecionador de momentos, apanhador de memórias. Quando quero, nada me foge. Observo e vejo o que poucos veem. É que ninguém desacelera na loucura de um mundo apressado. Previ as datas que sofreria. Acertei. Soube dos meses, das horas e até dos minutos. Soube que seria até enquanto eu trabalhava. Soube quem e soube quando, só não sabia por quanto. Nada como a beleza e a tragédia de conhecer. Busquei com todo o meu coração evitar que os outros sofressem, não jurei por Deus, mas tanto quanto pude, eu cumpri minha parte. Lembrei de frases sussurradas e de objetos de vidro. Coisas que caem uma vez e não se consertam. Meu coração é feito de material mais resistente que o vidro. Fui desafiado a dizer a verdade e olhei nos olhos do interlocutor. Soube que iria perdê-lo, mas não evitei o que sabia ser evitável. Há tanta confusão. Chamam de amigo os que te apunhalam. Ferem os que são amigos, quando ninguém mais pôde ser. O que pode ser feito? Se é tão barato contar uma mentirinha em um mundo maluco e fugaz, por que me sinto impelido a ser sincero? Por que é que tudo dói mais conforme cresço? Por que é lento o processo de ter o que mereço? Por que quando tudo se faz vento, sou eu o ferro?

     Recusei intimidade com outras pessoas. É fato que tive poucas chances de fazer novos amigos, mas não deixei que ousassem a me chamar por nomes mais profundos. Dispensei a conexão, principalmente a romântica. Sei que o tipo de intimidade que precisava encontrar era comigo, novos motivos para ser feliz. Até matei o meu charme, mais do que o faço normalmente. Meus olhos revolveram para dentro. Dormia acordado. Sonhava em mim. Distinguia com facilidade o que era e não era. Ainda assim paguei caro por uma ilusão que chamei de real. Até os mais doces sonhos acabam eventualmente. Hoje tenho o que gastar, mas notei que o dinheiro é só um papel mais bonito.  Não que eu não soubesse. O diamante não difere tanto assim do granito. Acordo e olho para os lados completamente assustado, mas embora minhas próximas ações sejam mecânicas, eu suspiro. Sinto um alívio profundo em saber que ainda há tempo, embora não saiba para o que. Queria que minha mãe tivesse preparado o café, mas moro sozinho, pago minhas contas. Tenho um novo ritual. Como um pedaço do meu chocolate amargo antes do café da manhã. Se você já fez isso poderá dizer como a experiência é diferente. Ao mesmo tempo ele é mais chocolate e mais amargo. A vida se renova com o começo do dia.

     Enfim, eu tomei uma decisão. Confesso que sou como um hobbit. Gosto de ler livros, confortável em minha poltrona, mas amo aventuras. É hora de viver a minha. Se todos eram capazes de ser tão mais felizes sem que eu estivesse por perto, por que eu não poderia ser mais feliz sem todos eles? Neste instante derradeiro, eu me convenci. Tenho bons olhos. Decoro as sardas de um rosto como se fossem constelações. Memorizo nomes, pois possuem força e poder. É tão precioso se lembrar da maneira certa de chamar alguém como acariciar do jeito correto os cabelos da mulher que se ama. Admiro os trejeitos na fala de cada indivíduo. Sei que até o que se parece é diferente. Quase nunca mais gaguejei. Fui muito rápido ontem. Fui muito lento antes de ontem. A vida pede ritmos e tenho oferecido impressões erradas quais não posso consertar. Volto os olhos para meu cerne. Ainda procuro o rosto que minha alma tinha antes da criação do Universo, mas é uma busca vagarosa. Quem me olha, raramente me vê, pois é preciso olhar certo para captar além de mero vislumbre. Cuido bem dos detalhes. Sei amar as coisas da maneira correta e ainda me lembro de amar o que a maioria esquece e também o que escolhem deixar para trás. Não prefiro o gato ou o cachorro. Amo igualmente os dois. Não falho em preparar meus cafés pelas manhãs. A vida é simultaneamente rápida e sutil. Tudo se despedaça rapidamente, até mesmo algumas coisas das quais cuidamos com carinho, mas é assim que deve ser. Cada um tem a oportunidade de viver e se valorizar no próprio brilho que a faz singular, porém, ainda que exista escolha, quase todos escolhem ser mais dos mesmos. É comum que guardem ouro e lixo na mesma repartição e se esqueçam da diferença. É comum que sejam todos iguais. Eu? Não posso ser assim. Acho que sou como Neil. Acho que também prefiro me lembrar de uma vida desperdiçada com coisas frágeis do que uma vida gasta evitando a dívida moral. Agradeço ao mundo por ainda estar aqui. Tenho motivos para agradecer. Ao final do dia, eu ainda sei quem sou. Contradigo-me quando necessário e busco a felicidade. Nunca mesmo piso em coisas frágeis. E você?

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A vida é um poema maluco

     Viajei por uns dias. Superei aquelas tão típicas semanas de tristeza e placidez. Quiseram me encarar de frente e pela primeira vez estreitei ligeiramente meus olhos para espiar de volta. Não encontro resposta, pois noto que mal sei qual é a pergunta. Entrego-me aos devaneios diurnos. Imagino meu cachorro correndo em minha direção. Ele chora de alegria pela minha presença. Os melhores sentimentos do mundo se fundem em algo sublime. Existe alguma besteira qual já imaginou repetidas vezes? Algo que ache tão singular e exclusivo ao ponto de que se considere bizarro? Tenho várias, mas aí vai uma... A alma de meu cão Link é tão bonita que, acaso eu tenha um filho depois da morte do meu cachorro, rogo para um deus qual não acredito, que faça com que a alma do meu cão seja a mesma da minha prole. Bobo, não? Ora, o que você saberia sobre isso, sobre amor, se nem mesmo gosta dos animais?

     Tenho me tornado mais frio pelo acúmulo do sofrimento, mas não me importo. Reservo minha cautela para os detalhes que a maioria não deseja ver. Às vezes me emociono ao observar a paisagem que me cerca. Quase qualquer coisa basta. O canto dos pássaros, um documentário sobre a vida marinha, elefantes, ostras, sapos coloridos. Atento, admiro os relâmpagos que me chamam. Isso soa estranho? Tenho compreendido minhas partes e, por conseguinte, consigo entender melhor as partes dos outros. Sou gentil, mas não completamente empático ou sensível. Chore se sentir vontade, meu caro, mas se estiver passando mal, não vomite no chão da minha sala. Eu vou cuidar de você, mas conserva a ti mesmo um pouquinho de pudor e de higiene para que possamos ser sociáveis um ao outro, ok? Veja, eu mesmo vomitei mais vezes na vida do que você. Pelo que me aparenta ser um longo período, eu apenas colocava tudo para fora. Durante essas crises de febre alta, ardendo em delírios, uma vez notei que minha força para o combate inspirava meu próprio declínio físico. Eu era um ferrenho desafiante contra as inverdades do mundo, mas que é que eu poderia fazer diante de uma realidade tão dura? Ah, você pensa que me encurralou, pois outro dia gastei minha saliva discorrendo sobre como a vida por aqui é inefável. E é, porém, também não é. O que se pode fazer a respeito dos maus e dos intragáveis? Danem-se eles, você pensará. Ainda podemos recolher-nos em uma bolha com duas ou três pessoas boas, que, definitivamente são melhores do que a maioria dos vis oportunistas que nos cercam. São mesmo? Dê tempo ao tempo e verá. Seu herói sem máscara, talvez seja apenas um vilão comum. Notará ainda que até mesmo um mau sujeito pode se cansar de vilanias e iniciar uma busca por um futuro auspicioso. Vale se apegar a qualquer resquício de redenção. Enfim, na beirada do abismo, chega à indagação, por que é que devo continuar?


     Nada faz sentido, mas lá atrás houve coisa certa que sentido fez. Foram apenas dias, embora, no coração estejam revestidos por uma muralha de ouro, intocados em forma de boas recordações por toda a eternidade. Você, vendável, sabe que daria tudo o que tem para repetir aqueles lampejos de felicidade pura e genuína. Não se vê essa alegria no meio dos períodos quais a desfruta, de jeito maneira. Também deixa de perceber a intensidade do momento até que o tenha vivido. Depois, somente depois é que se toma nota que desejaríamos que aquele passado fosse infinito. Você, porcamente altruísta, pois não pensa honestamente com empatia, conhece o seu próprio preço e reconhece, ainda que jamais diga, por onde é que estaria andando neste estágio da vida se pudesse fazer diferente. Egoistamente, você até arrastaria três ou quatro pessoas com você, não mais que isso, pois saberia que o aumento do número de pessoas faria crescer diretamente a diversidade de interesses, tal qual, você teria os seus próprios desejos arriscados ao fracasso. Pois, você tem alguém que caminharia com você? Deixe-me ser mais claro: possui alguém que dividiria a estrada contigo, mesmo que soubesse que lá no fundo sua alma é sórdida, vil e abjeta? É irônico o quanto somos submetidos a uma diversidade de ironias. Não há os completamente bons e nem os inteiramente maus, mas reluto em admitir que a vida toda, toda vida, tudo seja sobre um jogo de interesses. Meus interesses, por sinal, renascem todas as manhãs e morrem com o lusco-fusco. Existe salvação para quem desaprendeu a ter uma relação de amor duradouro com o mundo ou este novo amor, honesto e mutável, é uma nova versão minha? Não faço sentido. Talvez não precise fazer... Que mania idiota é essa que tenho de querer compreender o mundo inteiro?


Acaso pensa 
que existe um 
esquema para tudo? 
Ele tenta, 
Insiste e não aprende
A vida é um poema maluco. 

domingo, 16 de dezembro de 2018

Conselhos de Mestres

     Cedo desperto, mas sem me sentir esperto, pois ainda sinto a necessidade de dormir. Será hoje outro bom dia para sorrir? Pasme você, ontem fiz alguns exercícios físicos vestindo uma camisa polo, mas o que mais eu poderia fazer? Se eu não me extravasar, implodo. Ri de mim e ri comigo. Sou suficientemente maduro para saber que ninguém tem nada a ver com aquilo que é somente meu. Sou quem sou ou pelo menos quem tento ser. Sempre me recuso a existir sendo apenas metade. Certamente ainda existe maneira de que eu reencontre as coisas que pensei ter perdido ou que de fato perdi, mas como é que se filtra o valor da perda? Como e quando se decide que o perdido é fundamental ou não? Quando é que a insistência pode premiar e quando é que soa como um excesso vulgar?

Somos mais do que as partes que nos formam.

     Haverá adiante mais loucos que possam acreditar nas coisas que acredito. Então, eu poderei ainda vislumbrar com outras pessoas um mundo mais bonito. Pessoas que acreditem em canções, dragões e aventuras. Nem tudo o que é belo perdura? Toda pessoa sensata anda sempre a vestir sua própria armadura? Ah, eu não sei mais o que fazer. Meu coração se tornou um comprador assíduo de qualquer ilusão, pois também quer crer na ilusão de pertencer. O que sou? O que você é? O que nós somos? Somos mais, somos mais, muito mais que as partes que nos formam. Repito e tento fazer deste o meu novo mantra. Já não sou mais capaz de olhar para trás, até por saber que nada disso adianta.

Isso de ser exatamente aquilo que se é ainda vai nos levar além.

     Leminski estava mesmo correto? Pois tenho sido exatamente o que sou e a gentileza não é premiada em dobro, eu aprendi. Tenho sido alvo de línguas afiadas, a piada pronta de pelo menos meia dúzia, mas de que isso importa? Eu admito que ainda prefiro ser sincero independentemente da situação. Rio dos papos rasos dos ascetas e profetas, mas a verdade é que invejo até a religião. Sequer imagino como é depositar minha confiança em forças alheias. Quando penso nos meus motivos, minhas razões de lutar, meus olhos brilham e meu corpo se incendeia, mas nas noites sombrias ainda indago. Por que é que uma pessoa tão familiar se tornou tão fria? Por que sinto a ausência de afago?

A gente sempre destrói aquilo que mais ama
Em um campo aberto ou numa emboscada
Alguns com a leveza do carinho
Outros com a dureza da palavra
Os covardes destroem com um beijo
Os valentes com uma espada.

     Talvez Oscar Wilde estivesse mesmo correto. Talvez ele fosse pontual ao ponto de ser sublime. Talvez, apenas talvez, ele tenha vislumbrado as coisas exatamente como são. Talvez o destino de todos os amantes seja a destruição. Sou prolixo, anunciei bem antes. Começo a falar de amores, esplendores e termino em diamantes. Não sei bem expressar como é que me sinto. Sei, porém, que não sei evitar não ser sucinto. O que é que há para mim agora ou depois? Por que insisto em falar de mim como se eu mesmo fosse dois? Creio, porém, que os que possuem bons olhos possam enxergar exatamente tudo o que há para ver. Detalhes. Coisas frágeis... Coisas pelas quais almejo viver. Escrever livros, beber café, rir alto e vivenciar o amor, mais do que tentar explicá-lo. Um descuido, porém, as crenças se abalam e escoam pelo ralo. Somos assim, até mesmo os mais fortes de nós, completamente vulneráveis. Morremos de centenas de jeitos diferentes todos os dias. Quem é que liga para os de empregos menores? Quem não os trata como fantasmas? Quem vê poesias? A praticidade do mundo me assusta quando somada com a seriedade objetiva das pessoas. Uma imagem de coragem brilha na escuridão e minha luz batalha contra as trevas. Todos são assim assustadores?

Devemos ensinar os nossos temores a nos temerem

     Neil Gaiman está certo. Essa talvez seja a única maneira saudável de existir. O que mais me apavora é realmente o que me impede de sorrir? É assim que tenho me sentenciado. Um olho no presente e outro sempre distante no longínquo passado. Essa é a receita perfeita para que tudo dê errado. Bem, se sei como me errar, por que, enfim, não acerto? Por que não consigo afastar a letargia e me sentir desperto? Por que é que memorizo nomes, jeitos e vozes de pessoas que mal conheço? Por que é que leio tão bem tanta gente do avesso? O dever do escritor é mostrar ao mundo em que vive o próprio mundo em que vive. Será possível que todos sejam tão cegos assim? Não. Quem não vê sou eu. Quem não sente sou eu. Nem sei se posso ser mais do que sou ou sentir mais do que quero. Sei que pouco sei, porém, por este motivo não me desespero. Quando me olho já não corro. Oscilo entre meus vinte e seis, meus oitenta e meus cinqüenta anos de idade. Há instantes em que sou criança novamente. Meu coração sorri com serenidade para o mundo e raios de sol despertam algo adormecido em mim. Corro pelas escadarias do meu próprio ser rindo e chorando de tudo o que um dia foi, de memórias perfeitas e estilhaçadas que significam tudo e também nada. Somos todos são especiais, vocês percebem? Este é o ano mais longo que já vivi e até ele está prestes a se findar. Mudei completamente, mas mantive minha essência intacta. Por todas as experiências minha alma é grata. Uma única coisa que em mim permanece estável: não sou vendável. Que os vendavais levem todo o resto. Mais uma semana se inicia e é tempo de correr atrás do que é meu. Dei três passos para trás para pegar impulso e disparar. Olhei nos olhos dos meus maiores objetivos. É tempo de realizar sonhos. Vi quem sou e pela primeira vez senti que poderia cruzar o deserto por meus próprios ideais. Sorri ao lembrar de uma frase de Exupéry. 

São os caminhos invisíveis do amor que libertam o homem. 

     Sinto-me liberto. A sensação me basta e me sinto repleto de alegria. Sou grato pelos últimos dias. E você? Agradeceu recentemente por sua sorte? Outra semana se inicia, sorria e seja forte.