quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Mentira, Utopia e Verdade

     O céu exibia sua diversidade de cores em uma demonstração clara de como era inútil que algo tentasse superá-lo no quesito beleza. Respirei fundo, mas permaneci imóvel com ambos os cotovelos apoiados na mesa. Comecei a meditar sobre como deveria estar pensando em coisas relevantes, mas, quanto mais demonstrava minhas preocupações, menos me importava de fato com o que deveria ser considerado essencial. Afinal, há algo que importa além das mentiras cotidianas? Será mesmo que é correto empregar o termo deveria? Você vê? Ressalto que gostaria que fosse muito sincero comigo, mas enxerga algo mais relevante do que o carinho ofertado e recebido? Desejos! Ah! Desejos! Quem é que não os possui ou não é possuído por eles? Entre na contramão de si mesmo e como um tolo vague a esmo procurando por respostas de perguntas quais desconhece. Este é o trágico destino de quem possui a alma de menino e que da noite para o dia chora, porém, abraça a melancolia lá fora e aceita todos os sentimentos do mundo. Não é necessário que exijam coisa alguma. Você acha que merece todas as desgraças que estão acontecendo? Talvez você esteja certo. 

     Não me diga para onde vai, pois você sabe bem como sou imprevisível. Quero manter minhas asas no ar, embora não pretenda tirar meus olhos de locais de descanso. Tudo é possível. Não, por favor, não me siga. Entenda como eu entendi antes. Todo mundo me afasta e isso basta para saber o quanto sou inconstante. Talvez a ideia inversa seja a verdadeira e o hábito tão certo de atitudes certamente costumeiras é que me torne distante. Veja! Há beleza por qualquer que seja o seu caminho e sua direção. Agir com sutileza é a única maneira de não despedaçar um coração. Sua extravagância intranquila me deixou irado, mas agora tudo deveria ser irrelevante. Deveria mesmo? Pense. Incoerências e inconsistências, a fé em Deus que aposta na ciência, a fênix que se apraz de estar no chão. Se te perguntarem se eu me conheço, preste atenção, eu tenho certeza das palavras que vou dizer. É claro que sim, eu me conheço, mas aí reside o maior dos perigos. Quem é que no mundo não teme a flechada quando sabe que cairá se no ponto fraco for atingido? Eu deveria ser mais corajoso? Talvez devesse. 

     Olhe, eu não tenho sido covarde, mas não faça alarde se eu estufar meu peito. Por muito tempo tenho ficado em silêncio, mas agora me convenço de que as coisas deveriam ser mais do meu jeito. Esqueça o que tem dito e o que tem pensado. Esqueça o que é certo e errado. Corte ligações eternas ou fugazes. Trapaceie pela primeira vez na vida e surpreenda com uma investida secreta e direta protegida por ases. Corte todas suas relações antes que te coloquem no limbo de novo. Eram imprescindíveis e já não ligam mais. Não se culpe se tudo lhe parecer o fim. São apenas fases! Ah! Desejos! Quem é que abre mão de sonhos por beijos? Valho-me dos sonhos, pois são mais precisos na imprecisão. Neles posso mergulhar nos mais fundos oceanos e buscar os mais lendários tesouros: os segredos do porão. Posso mudar meus planos e achar centenas de potes de ouro. Ah! Valho-me do sono e dos sonhos mais preciosos, pois não adianta temer o que está por vir. Se durante os dias, confesso, às vezes não sei pelo que agradecer, durante as noites tenho a certeza de que viverei instantes de prazer. Liberado das obrigações sociais e das vontades fugazes, em sonhos nunca me limito. Sou todos os feiticeiros do mundo, mas também todos os enfeitiçados e nesta fantasia realidade realmente acredito. Liberto-me. Minha volúpia se derrama acima de minha consciência e me entrego a todos os sentimentos quais tenho evitado. Em sonhos não julgo ninguém e nem mesmo sou julgado. É bom sentir esse tipo de liberdade. 

     E os novos boatos se espalham pela cidade. Todos os tolos têm falado, mas pouco me importo. Na confusão de ser e relembrar, eu tenho sentido falta até do que não vivi. Tenho tido saudades de momentos que inventei por pura dispersão e vontade de sorrir. Perguntam meu candidato político e a minha idade. Noto a língua agitada pronta para me dar um sermão. A mentira mal contada na utopia de verdade é tudo que importa para essa gente viciada em encenação. Quem é você que não sou eu, mas que pensa ser mais do que realmente é, mas que nem mesmo é o que é? Quem é você que não sou eu, tão inteligente, homem esperto e eloquente, mas que duvida da própria fé? Quem é você que empodera suas vadiagens e comete todos os tipos de atrocidades sem se importar? Quem é você que não passa, mas quer passagens para sair deste lugar? Quem é você que me olha como se fosse caça e não importa o que faça não pode me querer bem? Quem é você que condena minha simplória vida e jamais parece arrependida até mesmo quando vai além?

     É um jogo, eu sei, você sabe, portanto, é bom que estejamos todos atentos. Sou quase o homem mais solitário da cidade. Digo quase, pois durante um tempo, juro, eu apenas compartilhei meu espaço com alguns fantasmas, alimentando fantasias e criando poesias, versando com a quantidade errada de palavras. Aí adotei minhas gatas. Ou será que elas me adotaram? Fiz por elas, confesso, mas também fiz por mim. Gosto de dizer para os estranhos que realmente me conheço, mas talvez não seja a verdade mais bem dita ou bendita. Coleciono utopias. Posso jurar que nos dias de inverno beberei meu café com toda a convicção da existência de um semideus interno que me faz ser capaz de escrever livros, fazer sexo como se deve e realizar os maiores sonhos. No verão sou preguiçoso e meu instinto moroso me faz preferir filmes, livros, séries e sono. O sono é o mais atraente, mas meu castigo por ter engolido uma estrela cadente é pago agora. Há anos que não durmo mais de seis horas (consecutivas). Durante os dias, eu me arrasto, mas não me afasto das zonas de confusão. Crescer é necessário e você vai ver. "Quando for adulto verá o quanto e o porquê me ocupo. Tudo o que faço é por você".  Devo ter emprestado a frase de um filme. Admito que às vezes chacoalho o mundo para tentar me fazer confuso. É mais fácil quando você não sabe o exato lugar onde deve pregar o parafuso. Lembre-me de um conselho de um gato num livro infantil: para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve

     Veja, meus instintos, voluntários e totalmente naturais, guiam-me através deste monólogo escrito, quase infinito. Veja, eu poderia me estender por eternidades e passaria longe da objetividade de mostrar o meu lado mais bonito. Ouça bem... a mentira mal contada na utopia da verdade. Ninguém, meu amigo, ninguém vai te dizer coisas belas. Aproximo-me de mim. Como é possível? Aquele outro eu sou eu mesmo ou é outro? Qualquer verso ou rima atravessa minha mente e cogito estar louco. Tão pouco era preciso para alcançar a felicidade. Retorno ao tempo que era apenas uma criança para tentar me entender. Não, eu volto antes, bem antes, mas não por tentativa de compreensão. Gosto de me observar de fora um pouco em um silêncio contemplativo. Tenho procurado tanto, mas não sei o que. Será que vou encontrar? Ora, a maioria precisa de tão pouco para ser feliz e você aí se arrasta, nunca se basta, persiste com suas forças gastas e frequentemente se pega de cócoras para respirar. Por que pesa tanto o peito se você nem é fumante? Mistérios. Por que está fatigado se seus hábitos são impressionantes?

     A tristeza é um fato, mas também uma doença. Celebro a vida, de quando em quando, como se eu mesmo a tivesse feito ou criado. Comemoro um raio que vejo lá longe assim como a bela paisagem de beleza inenarrável do lusco-fusco. Quem é tão bom com palavras que pudesse descrever mais de trinta cores? Quem é tão bom em juntar numa amálgama diversos tipos de dores? Ah... Desejos, amores. A tristeza é um fato, mas também um hábito viciante. Eu me viciei no meu estado soturno e achei que todo o resto deveria me tolerar. Maldição! Quem é que deve algo nessa vida? O tempo me sussurrou um segredo e de repente me senti um homem de sorte. Coragem não é a ausência de medo, mas você precisa se lembrar de viver, pois há a morte. Morte sim, senhor, para todos, irrefutável e precisa, mas agimos como se tudo fosse eterno. Apostamos alto... pessoas, amores, vulnerabilidades. Sorrimos e entre prantos disparamos para longe da nossa sempre boa cidade. Não sou artista de verdade, mas pinto a tela lúgubre dos meus sonhos etéreos e cardíacos. O coração bate e o cachorro late. Todo mundo que você conhece, enfim, cresce. Estão seguindo. O que é que faz você achar que pode fazer o que ninguém poderia? Quem enfiou verdades no meio das mentiras que inseriram através das utopias? Creia em mim ou creia em nada. Tanto faz, enfim, cada um percorre apenas uma estrada. É preciso estar no ápice do estado de sono para admitir que é necessário o abandono de outras mil jornadas. Elas não serão vividas por você. 

   Olhe, você é capaz de edificar sua própria fortaleza, esculpir os próprios muros que te proporcionarão o silêncio pacificador, deslizar por descidas angulares e perigosas como se fosse uma espécie de esportista radical. Alguns te invejarão, assim, tome cuidado. Ser original cobra o preço. Viver exige responsabilidades. Considere-se um nada ou um príncipe dos ares; diga que é o breu vazio ou um tritão imponente dos mares; provoque arrepios, mas jamais desfaça lares. Creia em mim ou creia em nada. Você sabe que no fim tanto faz. É costumeiro que cada pessoa goste ou queira impor algum fato, caro ou barato, como se fosse realidade. Não creia em tudo que a sua mãe dizia, pois foi dentro de uma utopia que eu conhecia a mentira mal contada que se bem analisada revelava um pedacinho da absoluta... Verdade. 

     
“Amar o perdido
Deixa confundido
Este coração
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão”.

Carlos Drummond de Andrade.

Instagram: @drp0etry

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Outros Mundos

     Agora compreendo, embora, certamente não queira lhe dizer coisas diferentes das que antes disse. Alegaram inverdades sobre mim e negar estes fatos era pesado demais para alguém que, todos veem, adquiriu o terrível costume de se fazer vítima. Ora, nós sabemos que você não é assim frágil. Você sabe tão bem quanto eu que a melhor maneira de se manter agradável a todos é nunca se posicionar. Os meus olhos te enxergam, querida, o que há de errado desta vez? Conte-me sobre essa nova versão sua, apenas conte, por favor. Conte do dia que apostou corrida completamente nua, contrariando suas manias, sentenciando sua dor. Conte do quão inesperado foi o erro esperado de ter feito o que fez, apenas me diga. Deixe me partir de uma vez, ao menos, antes que se inicie uma nova briga. Deixe-me dizer que não quero mais, deixe-me te deixar para trás. Eu não posso prometer esquecer completamente, mas juro que nem acenarei na despedida.

     Diga como foi. Você supriu sua carência com qualquer coisa e chamou de amor. Repita. Hoje estou com paciência e posso relevar minha própria dor. Sussurre em voz baixa sobre as coisas degradantes que fez, mas jamais revele o pior segredo do coração: não havia sido por você.

     Quem não erra que atire pedras, disse alguém que logo se abaixou. O fato de ser apedrejado suaviza algo? Ah, todos atiram pedras e são por elas acertados, mas qualquer engano legítimo pode ainda ser respeitado. Onde me encontro quando estou de olhos abertos? Por que é que só me sinto acordado quando estou tão longe de estar desperto? Cruzei limites em nome da proteção, chutei o balde em uma demonstração de amor, mas ao final, tudo contribuiu para que eu pudesse crescer. As atitudes do coração demonstram valor, por tal fato, se for errar, que seja por você. Se pretende omitir ou mentir, aprimore essa habilidade, pois suas tentativas estão sendo absurdas e vulgares. Só um ou outro nasce com essa capacidade. Quem pouco mente sabe ser o que sente e vê o que há ali de verdade.

     Ali? Onde? Quem você está tentando enganar? Todo mundo sabe enxergar uma pessoa que tanto faz questão de se mostrar, mas escondem o que pensam por mera polidez, você ingênua, confunde isso com respeito. Em quantas esquinas da cidade você viu minha sombra antes de entender que me perdeu? Por mera questão de vaidade, eu que jurei a eternidade, esperei tanto em vão, mas acabo de esquecer. Não inverta o caminho que tem trilhado agora que tudo está melhorando. Não me imite quando eu dizia: vou correr o relógio para trás e fazer o caminho invertido. Você deveria ter escutado quando disse que estava me matando. Agora aquele eu manco, preto e branco, finalmente foi deixado de lado. Para ser franco, não me interessa o seu pranto. Finalmente estou mudado. A realidade, porém, ainda é afiada e pungente. A gente não se engana e nem consegue se desligar da vida tão de repente. Tanta coisa ficou para trás e eu sei que você nunca voltaria para buscar. Eu ontem sim. Amanhã não. Hoje nunca. Há outros mundos além deste. 

     Há. Talvez mais que outros planetas, galáxias completamente novas e repletas de bilhões de estrelas. Talvez eu possa chamar cada uma delas pelo seu nome. Talvez uma delas cante melhor do que você. Talvez outra brilhe verdejante e outra encerre a escuridão do mundo. De que vale essa vida reles se o sono faz mais sentido? De que vale cantarolar sua força se eventualmente será traído? É exatamente aqui onde TUDO e NADA finalmente se complementam e você, costumeiramente idiota, começa a achar que entendeu, mas se engana de novo. Julga pela capa e acha que é tão delicado e frágil o ovo, mas quem suportaria tanto calor e pressão? Quem aguentaria tanta covardia, golpes diretos no coração? Peculiaridades enigmáticas, sombras antes estáticas, teu velho bom gosto com uma dose ainda maior de desdém. Você me esnoba, querida, mas aprendi a tomar conta da minha vida. Sei o que sou e vou mesmo além. 

 
  
 "ADEUS Ó ESTEVES! E o universo reconstruiu-se sem ideal nem esperança e o dono da Tabacaria sorriu". Fernando Pessoa. 


     Achou que poderia me recuperar enquanto houvesse vida,
     Mas meus últimos anos foram contados de hora em hora
     Outra me ganhou e não abre mão de minha companhia
     Há tanto que se perde quando a gente demora.  

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Amor fantasma, futuro, passado e fim

Eu não sinto meu coração até que doa, vamos, por favor, machuque-me.

     Tarde passada, eu resolvi, enfim, que fecharia os olhos para as direções quais eles sempre estiveram abertos. Estiveram assim, inevitavelmente, por escolha minha, mas escolher não deixa de ser também um fardo. Nunca me deram o benefício da dúvida, veja, eu sou sempre julgado com uma espécie de certeza férrea e fria, capaz de assustar até mesmo demônios. Ainda que seja algo desconfortável, eu acho que agora posso compreender porque o fazem. Sempre esperam a minha convicção, ainda que, usualmente só me ofereçam a dúvida. Não me ofendo. Abraço os monstros alheios e os que moram em mim também, mas acredito que posso, mais que antes, realmente entender a amplitude da ação das pessoas. Quando ameaçados, em regra, todos nós recuamos e somos ligeiramente ariscos. Quem suporta se sentir acuado? Eis que então a simplicidade ganha nuances de complicações e o simples ganha contornos impossíveis. Por que deixar alguém se aproximar? Quais benefícios podem advir disso? Por que é que tão fácil para uns falarem sobre coisas que não entendem? Por que é tão difícil aceitar outras coisas que, mesmo em silêncio, cansamos de compreender? Escute sua própria voz e não seja o seu próprio algoz. Siga o próprio conselho. Você já sabe o seu caminho. Proferiu as palavras sozinho diante de um espelho. 

Amor como crença em fantasmas. Raríssimos viram, mas todos falam sobre.

     Não nos ensinam, creio, sobre a maneira correta de acreditar em determinadas coisas; aquelas verdadeiramente importantes como o amor. É mais fácil aprender a não ter fé do que se acostumar a tê-la, percebe? Constroem a sua personalidade de uma maneira prática, comum, e se você der sorte, ao longo da jornada poderá contar com um ou dois tapinhas encorajadores nos ombros. Dirão que suas rimas são ridículas e que é melhor que seja advogado, médico ou que trabalhe na empresa da família, pois nessa vida, aprenda logo, não se vive sem dinheiro. Concordo com essas palavras. Quem é que vive sem dinheiro? É mais fácil também, assim como sugeri acima, acreditar no dinheiro do que em Deus, mas com o passar do tempo e o constante correr das horas, você percebe que, há coisas, ainda que sejam detalhes, que não estão ofertadas em vitrines. Como alcançar algo nada prático sem cometer uma espécie de crime? Como voltar o relógio, evitar se transformar em um opróbrio, e buscar, sem “ganhar”, a única coisa que um dia te fez sentir sublime? Ora, eu vejo que você ainda não vê. Talvez seja por dar trela à opinião de quem não se interessa ou pelo barulho alto da TV. Quando as crianças de rua perguntaram, todos os seus impulsos se calaram, pois não sabia responder. Uma simples indagação te travou. Quem diabos é que eu sou? 

Sirva-se filho. Sugiro que beba uma boa taça de vinho esta noite. 

     Obrigado, senhor. Tenho que me virar, eu sei. Na minha barriga e no meu âmago não carrego nem mesmo um rei. A arrogância de nada vale pra alguém como eu. Do que vale a pena discorrer? Amor? Ah! Amor! Amor é vislumbre para a maioria. Amor é rascunho de poesia. Amor em um dicionário atualizado é conceito de velharia. Quem é que, de verdade, se preocupa com o amor? Não os ensinaram, certo? Que já nascemos incríveis? Seus pais não falaram como não existem sonhos impossíveis? Ainda é traumatizado por que quando caiu da bicicleta haviam soltado sua mão? Notou que a cicatriz no joelho foi o jeito perfeito do conselho chegar ao coração?  

Não sejas precipitado, tome cuidado, mas não se torne arredio.
Fique esperto e nesta imensidão de gelo e deserto, lembre-se:
A confiança é um prato que se come frio. 

     Ditados invertidos, invertidos inventados, dias antes prometidos, por ferro e fogo feridos, eternidades fadadas a dar errado. Sinto falta de tudo o que um dia foi, mas não sinto saudade de quem fui. Tenho orgulho das mudanças e sei que hoje ninguém me possui. Seria tão ruim ter alguém para segurar a minha mão? Ah, meu amigo, chega dessa melancolia. Até quando vai se lamentar? Varra a monotonia e mude tudo de lugar. Chame as coisas pelo nome e espere que atendam seu chamado. Quem não responda, chame agora de passado. É preciso se preocupar com a saúde, a espessura do sangue e as veias do coração, mas não se esqueça de que a vida é agora e não há garantias em futuros planos. Por amor, por favor, não abandone tudo o que pode ocorrer de bom em um ano. Quem é que pode te atrapalhar a conquistar o que você sempre quis? Se pensar com cuidado, notará que seu único obstáculo, é o quanto você deseja mesmo ser feliz. Não procure respostas no que havia ontem e nem no que haverá amanhã. Faz sentido viver a vida além de hoje? Por meses que pareceram anos, eu não senti as batidas do meu próprio coração e quis culpar todo o resto, até a minha boa cidade. Quando entendi minha situação, coloquei SIM onde só havia NÃO, pois constatei que merecia a minha felicidade. 

Sinto minha vida pulsar e a vibração de tudo é tão serena.
Ainda não sei dizer qual é o meu lugar no mundo, mas
a partir de hoje assumo que sou parte de Tudo
Viver vale mesmo a pena. 


Não arrefeça se tirarem seu teto e sustento
Você já passou por fins de mundo piores e pôde sobreviver
Sei que vai virar o jogo no próximo movimento
O mundo acaba hoje para amanhã renascer. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Convite

     Gata preta que traz boa sorte, arco-íris de chão. Eu peguei só a geladeira, a cama e o desgastado colchão. Segurei as mãos dela e me calei. Quando falo muito sempre digo pouco. 

     Não pretendia que as coisas fossem assim, mas é que de tanto pretender acabei perdendo o que acontecia bem diante de mim. Choveram estrelas na noite passada, você notou? Incontáveis, cadentes, repletas de pedidos, esperanças e milagres, mas igualmente incapazes diante da sombra da ideia do amor. Havia esmeraldas na escuridão, você as pegou? Soltei os fantasmas do porão. Algum deles te assustou? Tantos olhos embriagados vagaram pela madrugada buscando uma distração. Você pode dizer que achou?

     Houve um boato na noite passada. Confessaram-me vários segredos, mas nenhum que me desse arrepios. A noite nublada também era enluarada e expunha tantos fatos e medos, mas só os solitários notaram os tantos espaços vazios. Onde é que você estava quando a dor se tornou tão pungente? Soprei a última luz de vela e encontrei uma bela fada endiabrada no momento em que se alimentava de uma estrela cadente. Quem é que não mente quando falta o que dizer? Quem é o que sente quando tenta não sentir o que quer esquecer?

     Encontrei um velho amigo em sonhos e ele me olhou divertido e risonho. Fui feliz. Encontrei o primeiro beijo sentado em uma árvore derrubada, mas quando abri os olhos havia menos que nada. Fui feliz também. Sempre jogo apostando, exceto quando o assunto é amor. O que é que ganho ao deixar outros provarem meu sabor? Sou singular e o resto que se dane, pois estou me lavando agora. De vocês, dos sonhos, planos e das velharias. Vou dominar o idioma francês e abrir minha própria cafeteria. Batuco meu peito e pareço tão oco. Queria oferecer-lhe o Universo, mas esta noite sou tão pouco.

     Sou feito da poeira mais pura. Todos os meus pensamentos belos e idiotas são feitos de matéria que perdura. Transformo-me em vidro e sou quebrado. Por que importa ser certo em um mundo que aprecia só o que se faz de errado? Estilhaço, quebro, espalho-me no chão. Quase ninguém toma cuidado e menos da metade de quem nota não evita um novo pisão. O que fazer se é tão frágil meu coração? Cuidado se resolver tentar a sorte e me remontar. Meus cacos são tão afiados que mesmo sem intenção posso machucar. Corte de gastos, orçamento, contabilidade. Falta-me a habilidade para desapegar dos sentimentos, mas construo aqui meus novos atos, sem vaidade, enfim, é o meu momento. Quando as estrelas despencaram como gotículas, os brilhos foram louvados e ninguém sentiu vontade de apagar o outro.

     Gata branca de estrada, cachorro da mais bela alma, arco-íris de chão. Eu peguei só o pouco que tinha e lhe entreguei o meu coração. Não sabia como era o misterioso rosto dela, mas eram quentes suas pequenas mãos. Olhei para aquela chance de aventura morando em um ponto de interrogação. Sorri docilmente com meus olhos em chamas, mas de alguma forma ofereci também o mais confortável abrigo. Respirei fundo e perguntei a ela, para a incógnita dos dias que virão, você está disposta a partir comigo?

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dispersão utópica

     Nunca fui de escolher bem, ao menos, não por mim. Sou parte da legião dos estúpidos, aqueles que sempre se preocupam com os outros. Às vezes dirijo imaginando, se a vida não seria mais simples se eu evitasse o primeiro retorno para o meu trabalho e seguisse a placa verde com letras brancas: CASA. É irônico, pois me pego contando o tempo em que faria a viagem. Escolhi certo pelos motivos errado tantas vezes. Como seria a vida se eu tivesse mergulhado no jornalismo? Talvez eu fosse um escritor publicado se não tivesse me formado em Direito? De que interessam os tantos se nessa vida? Nada. Esta é a tragédia e a beleza da vida. Encaramos uma possibilidade e temos que viver com o peso das mil que não escolhemos. Sorrio sozinho no carro. As músicas do meu pendrive, manjadas para quem estava acostumado a ouvi-las, soam como uma surpresa maravilhosa para qualquer estranho. Sinto vontade de gargalhar quando começa a tocar uma aula do último cursinho que comprei. Não me lembro de ter colocado aulas naquela pasta. Até os roteiros previsíveis guardam surpresas. 

     As coisas são diferentes agora. Às vezes as novas pessoas que aparecem em minha vida, creio, buscam ver em mim mais do que há no momento. Será minha culpa? Talvez eu apenas ofereça vislumbres de coisas quais não pretendo dar. Ofereço mesmo? Duvido. Sou simples na minha honestidade e geralmente impassível e duro. Sou amplo também, mas neste estágio da vida, confesso que frequentemente me sinto como um casulo vazio. Sou o velho fantasma à beira mar, contando estrelas, assombrando apenas as ondas que vão e vêm. Habito meu corpo em pequenos lapsos contemplativos de antigas memórias e sonhos futuristas, mas na maior parte dos dias sou oco. Alguém ralha comigo em tom severo: A vida é agora. Acorde! Espreguiço-me e faço uma refeição básica. Malho enquanto meus olhos se distraem com imagens na tela do computador. Meus músculos não doem, mas todo o resto grita. Animes e séries já me soaram mais interessantes. Não sou jovem, mas ainda não sou velho. Tudo é baço nos vitrais que estão diante dos meus olhos. Quase nunca enxergo com limpidez. Quando a visão é clara tenho vontade de correr. Pego-me pensando em coisas que deveria evitar. Sei coisas demasiadas para ser feliz?

     Antes, muito tempo antes, quando invariavelmente havia dragões em todos os finais de tarde, eu sorria mecanicamente e agradecia pela vida. Entendia muito de poucas coisas e pouquíssimo de quase tudo. Tenho me transformado, mas não radicalmente. Minha capacidade de compreensão é praticamente medíocre. Meu amadurecimento oscila. Há dias que quero fazer birra, gritar e chorar. Entendo de dor e de destruição, mas não sou de quebrar objetos ou pessoas. A vida é melancólica? É trágico rastejar ao lado de várias larvas e estar destinado a ser a última delas a voar. O que posso fazer, ora? Pois que seja assim! Eis meu único conselho para todos que sofrem: sofram. A necessidade de fugir do estado de dor, seja por meio de qualquer escape, faz com que se evite o que precisa ser enfrentado. Os monstros ganham tamanho e força quando tentamos fugir. Use sua animosidade de maneira criativa. Dias chuvosos não são bons para tomar sol e isso deveria ser óbvio, mas é comum a chateação e o burburinho incomodado em tom ácido. O que é que se faz quando não há sol? Imita-se velhos ranzinzas? Não. Faça qualquer coisa na qual o sol não seja absolutamente necessário. Os felinos não reclamam da ausência da luz e buscam outras fontes de calor. Mudança de hábitos. Você provavelmente vai estranhar, sufocar, talvez até sinta vontade de socar a parede ou gritar o mais alto possível para constatar que no fim do mundo sua voz não alcança pessoa alguma. 

     Será mesmo verdade? A sacola do mercado rasgou e uma mulher recolheu minhas duas garrafas da melhor e mais cara marca de sucos de limão que já comprei. Ela sorriu e perguntou se eu precisaria de ajuda até o meu carro, mas gentilmente neguei. Antes de que eu proferisse palavra, ela havia escutado minha voz. Não posso abraçar o meu cachorro hoje. Sinto falta do jeito dele de ser carinhoso comigo, mas a gata preta esteve na mesa do computador durante meu processo de digitar esse texto. Quero abrir uma porta para novas possibilidades, mas ainda não é algo fácil. Algum dia será? Reviro-me na cama antes de dormir. Como tantas pessoas abrem portas, janelas e frestas com tanta tranquilidade? Meu entendimento sobre a vida é ínfimo, acredito que principalmente pela minha necessidade tão exagerada de querer conhecer o Nome verdadeiro de tudo, mas devagar aprendo minhas lições. Saiba aprender as suas. Tudo hoje se parece com o fim do mundo, não? Você tem razão. É o fim do mundo, mas a vida se renova com o próximo descanso e o mundo começa de novo pela manhã. Está preparado para as possibilidades de um novo dia? Apenas viva sua vida da melhor maneira possível. Vivem dizendo para que eu seja mais realista e hoje sou capaz de assentir com seriedade, mas no fundo me guardo e me protejo em minhas diversas dispersões utópicas. Sobrevivo apenas pelo que sou capaz de imaginar e pelas coisas que amo. Faria sentido se fosse diferente? Não. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Obrigado!

     Claro que não há necessidade de expor o crescimento, mas quem sabe que brilha mais do que antes não precisa ter vergonha de mostrar a sua alma. É errado se inferiorizar porque o resto do mundo é cruel ou porque as coisas vão mal, mas entenda que luzir nada tem a ver com vaidade. Queria poder dizer que 2018 foi um ano só de alegrias, mas não foi bem assim. O grande Gandalf disse uma vez: “a mão queimada ensina melhor. Depois disso o conselho sobre o fogo chega ao coração”. Então me queimei, mas de maneira pueril busquei o desconforto da repetição por centenas de vezes. Até que chegasse ao coração. 

     Neste sentido, eu devo reconhecer que um ano é apenas um ano, mas no caminho houve marcos da mudança. Hoje olho para trás e sorrio, pois jamais abandonei minha essência. Ainda assim me permiti a trocar de opiniões. Não fiz nada pelos outros, pois só os perdidos vivem para agradar e não sabem a diferença entre bajulador e amigo. Há quem te espante diante de uma verdade simples e direta, pois que não peçam minha opinião. Errei e me desculpei. Fui perdoado e também não fui. Tive conexões de amizade que pensei que seriam eternas e foram fugazes. Conheci muitas pessoas e admirei o Universo que havia em cada uma. Tomei rasteira de quem não tinha o direito de me ferir e fui erguido por réprobos solitários que queriam que eu acreditasse no amor. “Somos todos ligeiramente quebrados, vê”? Não me esqueci dos vários nomes, nem de seus sotaques e vozes. Estive em São Paulo atrás dos meus sonhos e ouvi de 30 editoras que não analisariam os meus livros, pois estavam sobrecarregados. Obviamente me frustrei, pois preferia que alguém tivesse recusado meus projetos do que vê-los ignorados. Troquei de emprego e de cidade e do dia para a noite o meu jeito de viver mudou completamente. Dirigindo enfrentei os perigos todos os perigos da estrada: chuva, neblina, noite, animais e o (pior deles) sono. Quase nunca mais fui ao cinema, criei uma página de poesias (com a ajuda de uma digital influencer), apareci no jornal e no Youtube, revivi o blog e escrevi bons textos. Muitas vezes falei muito. Quase sempre disse pouco. Descobri que 2 é o melhor número par e que o 1 é o pior número ímpar. Treze é a sina de muita gente, mas trinta e um até onde sei é pura sorte. Revi amigos de infância, conheci novas cidades e li 26 livros. 

    Aprendi sobre ser anfitrião e entendi que existir cobra responsabilidades. Aceitei-as. Fui enérgico e sensacional. Fui decepcionante e rápido. Cada um colheu uma impressão diferente. Abracei desconhecidos, emprestei notas de 2 reais, ouvi sax na madrugada. Quis entender suas histórias. Senti saudade de assistir jogos com o Caio e de estar com meus poucos e bons grupos de amigos. Quis resmungar com o Matheus que ele dormia mais de doze horas seguidas. Meus irmãos não estavam perto. Descobri que o meu sorriso é bonito e as fotos com flash captam minha beleza. Ri das melhores mentiras que contaram para me agradar e suspirei diante das grandes verdades. Assimilei as pancadas. Falei sobre furacões e amor. Cuidei das coisas frágeis, mas compreendi que nem todo o cuidado do mundo garante que tudo não se perca. Desejei que meus melhores amigos estivessem comigo e me recordei de uma distante e divertida noite de bebedeira. A vida é sutil, dolorosa e linda. Escutei Lord Huron e Mumford & Sons mais vezes que qualquer outro ser humano. Escrevi minhas experiências. Sonhei acordado e vivi dormindo. Fui o homem mais solitário do planeta. Ganhei algum dinheiro. Adotei uma gata preta que dá sorte (Nami). Recolhi da estrada outra gata, esta arisca e esfomeada (Auri). Chorei pela saudade que ainda sinto do meu cão (Link). A conclusão de tudo é nenhuma, mas continuar a viver basta até que eu encontre bons motivos para ser feliz e celebrar. Agradeço ao que passou, pois ter vivido o Real Folk Blues e conhecido a tristeza profunda me fez capaz de valorizar meus momentos de alegria. Não quero e nem vou mais sofrer com tanta facilidade, mas aceito que sou estranho e pretendo continuar sendo alguém que valoriza as coisas frágeis e vive pelos detalhes. Ainda sou lagarta rastejando no chão, inseto sem casa, mas sigo confiando em meu coração e acreditando no nascimento de minhas asas. Já é 2 de janeiro de 2019. Não faz mais sentido olhar tanto para trás se coisas maravilhosas estão adiante. Há outros dias pela frente, mas a felicidade é pra já. Meu muito obrigado a quem participou da minha jornada no ano passado. Que estejamos juntos neste ano! Que todos sejam mais corajosos e felizes! 🧡