segunda-feira, 15 de maio de 2017

Nossos Dragões

E aí, galera? Só alegria? Não vou divulgar essa atualização no Facebook e nem em outras redes sociais, pois não estou afim. Este trecho que inventei não está associado a qualquer dos livros que já escrevi e nem mesmo a qualquer ideia que tive nos últimos tempos. Foi só um exercício que fiz para treinar a minha técnica de escrita, e acho que posso dizer que foi satisfatório. Devagar e aos poucos, eu estou ficando melhor no que gosto de fazer. Espero que curtam este trechinho. Resolvi chamar de “Nossos Dragões” e é exclusivo para meus poucos leitores do Twitter. Obs: o nome Tristan me veio ao lembrar de Ragnarok, um jogo qual joguei muito na minha juventude, mas nada do texto está relacionado com o jogo.


Os olhos de Tristan encaravam a criatura gigantesca, mas só alguns instantes depois pôde se permitir a acreditar no que via. Um dragão maior do que uma montanha prostrava-se diante do cavaleiro. Os olhos de Tristan marejaram, e os pelos de seu corpo inteiro se eriçaram. O seu avô, Tristan I, havia dito que em uma de suas centenas travessias pelo Oásis de Freoni, vislumbrara a beleza e o terror de um dragão. Você não vai acreditar, briguento, mas o bicho era maior que tudo o que você já viu. Maior do que um grifo, maior do que um sapo-rei, e maior até do que os muros da capital das luzes. Eu estava com Samir, Beltenker, Himmurd, que Amon Rá os tenha, e Grass. Só Grass e eu estamos vivos nos dias atuais, ou, pelo menos foi o que me contaram. Beltenker faleceu há 15 anos, Samir na década passada, e Himmurd ano retrasado. Não tenho notícias de Grass desde o velório de Himmurd. 

Tristan esperava pacientemente que os rodeios da história de seu avô terminassem para que ele continuasse a descrição do dragão. Seu pai lhe ensinara que os velhos, apesar de lentos na fala, sempre tinham algo sábio a ensinar, mesmo quando não pretendiam que seu ouvinte aprendesse. Feroz, briguento. O dragão parecia feroz mesmo dormindo. Estava descansando a cabeça dentro do pequeno lago que havia no oásis, e protegendo seu próprio corpo com a cauda. A cauda, briguento, era tão longa a ponto de conseguir proteger-se em trezentos e sessenta graus. Só conseguiriam atacar o dragão pelo alto, mas quem seria suficientemente louco para atacar uma criatura gutural e temível? Eu não, e nem meus companheiros cavaleiros. Grass era o único mago da pequena companhia, e se demonstrou ainda menos curioso do que nós. “Não façam barulho. A audição de um dragão é mil vezes melhor do que a de um humano, e eles podem ouvir os pensamentos turbulentos também. Não o encarem muito. Sua pele esconde olhos que observam ao seu redor enquanto os olhos da face descansam. Não respirem muito forte perto dele. A respiração de um dragão puxa muito ar. Se ele sentir que mais alguém está puxando o ar, nós podemos estar encrencados”. É claro que nós cavaleiros seguramos o riso. Sabíamos que os magos eram sábios, mas excessivamente sistemáticos.

O velho divagou por mais um instante parecendo rememorar com pesar o seu passado que nunca mais retornaria. De repente seus olhos faiscaram com a lembrança. Gigantesco! Ficamos a observá-lo por uma hora ou quatro, quem sabe dizer? Sabíamos que presenciávamos algo mágico e não ousamos nos mexer. O dragão se revirou, e sem tomar conhecimento de que era observado, ou, sem se importar com isso, sentou-se por um instante antes de voar. Sua pele era negra e reluzente, e parecia que toda a extensão de seu corpo era pesada e resistente como placas de aço. Abriu a boca em um longo bocejo, e vi dentes que seriam capazes de destruir metade de um castelo em uma mordida. Seus olhos eram púrpuros e incandescentes, e por um milésimo de segundo estiveram em nossa direção. Prendemos a respiração, paralisados, como quem aceita que a morte em uma circunstância tão singular não é tão ruim, mas também como quem sabe não ter como reagir. O dragão não nos deu importância. A nossa vida não o interessava e deve ter imaginado, com razão, que cinco coisinhas não ajudariam a saciar sua fome. Bateu suas gigantescas asas e voou. Samir foi arremessado dez metros ao longe pela lufada de ar, e nós só não tivemos o mesmo destino porque nos agarramos firmemente em árvores. Ah, briguento... Quase ninguém acredita nessa história, e ninguém se importa mais. Os que viveram para ver já não estão mais entre nós, e a nova geração só bebe e engorda. A paixão pela aventura morreu. Você acredita no seu velho?

Tristan deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto. Na época em que escutara a história havia acreditado plenamente em seu avô, mas com o passar dos anos e o aperfeiçoamento no ofício de cavaleiro de Prontera, aprendera a distinguir os animais dos monstros e os monstros dos mitos. Um dragão não passava de... Verdade!  Os dragões eram mesmo reais. Este que estava defronte a ele não era o mesmo que seu avô vira meio século antes, mas era sem sombra de dúvidas um dragão. Grande como uma montanha, e com uma pele vermelha e incandescente que lembrava um vulcão. Tristan estava desnorteado demais para encontrar palavras para descrever o que observava.
- Espero que me perdoe, velho. Cresci e passei a achar que todas as histórias infantis eram criadas para fazer as crianças ficarem impressionadas. Ah! Eu estava tão errado, mas agora já não importa. Em algum lugar do outro mundo iremos nos encontrar, e falaremos sobre nossos dragões! Neste outro mundo é que decidiremos qual foi o mais majestoso e terrível! Descanse em paz, meu velho. – De repente Tristan estava cansado. Sentia o peso de suas quarenta e uma primaveras sobre os ombros. – O seu briguento ainda não tem filhos, e nem é um rei tão importante ou imponente quanto deveria ser. Como venceremos essa guerra, meu velho? Como mudarei o destino? – Tristan suspirou. – Não tenho as respostas que gostaria, mas saiba que o seu briguento vai até o final com isso. Pela linhagem dos reis, pela população, e por Prontera! Por nossos dragões não imaginados também... – Tristan sentou-se e ficou a observar minuciosamente a criatura. Sentia em suas entranhas que jamais teria outra oportunidade de contemplar uma lenda viva. Admirou a beleza do dragão até ser lentamente arrebatado para um sono profundo e sem sonhos. 
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Sei que o domingo e a segunda-feira já ficaram para trás, mas ainda assim desejo uma excelente semana para vocês! Vamos ser corajosos, bondosos, e se possível educados também! Fiquem bem! Um beijão! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário