quinta-feira, 18 de maio de 2017

Maegis


O rei Tristan parecia abatido sentado em seu trono. Cofiava a barba rala de seu queixo enquanto meditava sobre as possibilidades que tinha para solucionar seus problemas. A situação já era difícil o bastante, mas piorava mais e mais. O único conselheiro do rei que estava presente naquele momento era Trabu, e este o observava complacentemente. 

- O que foi? - Perguntou o rei, irritado. - Se você vai ficar me encarando com essa expressão esquisita, informo que prefiro ficar em minha própria companhia. Seu rosto é peculiar, mas não tenho apreço algum por observá-lo por mais que alguns minutos diariamente. 
- Majestade, concede-me a palavra? - Perguntou com polidez. Tristan sabia que o conselheiro traria mais notícias ruins, mas não havia como evitá-las
- Diga logo o que quer dizer, Trabu. São notícias de seus parentes, certo? Fale de uma vez. 
- Não só dos meus parentes, majestade, mas receio que eles também tenham que ser mencionados neste diálogo. 
- Ande, Trabu. O mundo está desmoronando enquanto perdemos tempo aqui, e dirão que a culpa é minha. Narre todas as novas notícias quais valham a pena! 
- Como ordena, majestade. Primeiramente, algo estranho está acontecendo há dois dias nas fronteiras da Floresta de Prontera com o Deserto de Morroc. Há relatos de que dois bruxos e uma criatura estranha estão impedindo a passagem de todos os transeuntes. Os mercadores se recusam a se arriscar por este caminho. - O rei esfregou as mãos, impaciente e irritado. 
- Eu tenho a impressão de que você não me contou tudo o que sabe, Trabu. Existem provas de que a criatura esteja realmente associada aos bruxos?
- Não, majestade, porém há mais uma informação que talvez mereça ser mencionada. Um mercador local disse que mesmo a quilômetros de distância foi capaz de escutar uma música lúgubre e hipnotizante. - Os olhos de Tristan se arregalaram e ele se levantou da cadeira.
- Maegis? - Perguntou ao conselheiro, e sua voz saiu gritada sem que percebesse. 
- Não podemos confirmar, senhor, porém a possibilidade é tão real como qualquer outra especulação. 
- Por que ela participaria de algo assim? - Tristan aos poucos estava perdendo o controle. Fechou os olhos e juntou as mãos. - Apak ce tu cen, kambo. Apak ce tu cen, kambo. Pio tera ce tu, cen. 
- Vossa majestade me espanta com seus conhecimentos diversificados. - Disse Trabu não sem alguma pitada de ironia na voz. Tristan abriu os olhos e parecia simultaneamente calmo e determinado. As palavras que havia pronunciado carregavam algum tipo de magia. 
- O conhecimento é algo que poucos almejam. Se me mantivesse cercado apenas pelos aprendizados humanos, eu jamais teria condições de ser um bom rei. Pratique a doutrina dos Memek Thu Lhen também. Aposto que não lhe faria qualquer mal. - Disse o rei e deu um sorriso matreiro. - Continue. 
- A doutrina deles não é para mim, mas continuarei os meus relatos como ordenou, majestade. Se a fronteira entre Prontera e Morroc se tornou impassável, a única rota alternativa e viável aos nossos mercadores é a Floresta Escura. Aumentarão o tempo de jornada em cinco dias para ir, e cinco para voltar. E é aqui que...
- É aqui que entram os seus parentes, certo? Os goblins moveram parte de seus exércitos para a Floresta Escura. Deste modo emboscam nossos mercadores, e todos os negócios que existem entre Prontera e Morroc ficam impedidos. Tendo toda esta situação em vista, creio que os goblins estejam aliados aos bruxos referidos, mas reluto em acreditar no envolvimento de Maegis nesta história. Nunca há diplomacia com os goblins, Trabu?
- Quase nunca, majestade. Geralmente resolvemos as coisas em combates simples mesmo em nossas próprias desavenças. Quem sobreviver será o dono da razão. - Tristan não conseguiu se conter e gargalhou alto. 
- Você é uma pequena exceção, meu amigo Trabu? - Perguntou retoricamente. - Convoque o Lorde Gilbratar e o Lorde Gales. Iremos até a fronteira com uma tropa notável. Algum dos Bruxos Reais se encontra em Prontera?
- Não, senhor. Temos Baemis e Keffer, magos estudando o ofício da bruxaria. 
- Merda... Tudo bem. Por que existem os Bruxos Reais se eles nunca estão quando precisamos? Situações urgentes pedem medidas urgentes. Quero Gilbatrar, Gales, Baemis e Keffer reunidos nesta mesma sala em duas horas. Localize-os, Trabu. Enquanto você faz isso, eu vou até a Ferraria. Há uma encomenda que preciso retirar. 
- Sim, majestade. 
- Nos vemos em breve. Obrigado pelos conselhos. Até logo!

O rei não esperou que Trabu lhe respondesse. De repente parecia cheio de ânimo e vigor. Ser rei tinha suas vantagens e desvantagens, mas ficar preso dentro de uma sala resolvendo questões burocráticas era deprimente. Ele odiava saber que a guerra era cada vez mais iminente, mas havia decidido que participaria da expedição ao deserto. Os conselheiros se demonstrariam totalmente contra. Para eles, o rei de Prontera deveria ser protegido e preservado acima de tudo, mas Tristan não seria vetado da jornada. Não existia qualquer pessoa do mundo que pudesse lhe tirar a chance de ver Maegis mais uma vez. Ele repetiu o nome em sua mente inúmeras vezes até que o som saísse de sua boca novamente. Seu coração batia rápido. Sua voz era uma súplica e uma oração. 

- Maegis...


E aí, galera! Só alegria? Escrevi na segunda-feira um trecho da história do rei Tristan III. Eis aqui uma breve continuação que fiz agora. Esta cena, porém, se passa antes do encontro de Tristan com o dragão. Espero que gostem! 

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