domingo, 16 de dezembro de 2018

Conselhos de Mestres

     Cedo desperto, mas sem me sentir esperto, pois ainda sinto a necessidade de dormir. Será hoje outro bom dia para sorrir? Pasme você, ontem fiz alguns exercícios físicos vestindo uma camisa polo, mas o que mais eu poderia fazer? Se eu não me extravasar, implodo. Ri de mim e ri comigo. Sou suficientemente maduro para saber que ninguém tem nada a ver com aquilo que é somente meu. Sou quem sou ou pelo menos quem tento ser. Sempre me recuso a existir sendo apenas metade. Certamente ainda existe maneira de que eu reencontre as coisas que pensei ter perdido ou que de fato perdi, mas como é que se filtra o valor da perda? Como e quando se decide que o perdido é fundamental ou não? Quando é que a insistência pode premiar e quando é que soa como um excesso vulgar?

Somos mais do que as partes que nos formam.

     Haverá adiante mais loucos que possam acreditar nas coisas que acredito. Então, eu poderei ainda vislumbrar com outras pessoas um mundo mais bonito. Pessoas que acreditem em canções, dragões e aventuras. Nem tudo o que é belo perdura? Toda pessoa sensata anda sempre a vestir sua própria armadura? Ah, eu não sei mais o que fazer. Meu coração se tornou um comprador assíduo de qualquer ilusão, pois também quer crer na ilusão de pertencer. O que sou? O que você é? O que nós somos? Somos mais, somos mais, muito mais que as partes que nos formam. Repito e tento fazer deste o meu novo mantra. Já não sou mais capaz de olhar para trás, até por saber que nada disso adianta.

Isso de ser exatamente aquilo que se é ainda vai nos levar além.

     Leminski estava mesmo correto? Pois tenho sido exatamente o que sou e a gentileza não é premiada em dobro, eu aprendi. Tenho sido alvo de línguas afiadas, a piada pronta de pelo menos meia dúzia, mas de que isso importa? Eu admito que ainda prefiro ser sincero independentemente da situação. Rio dos papos rasos dos ascetas e profetas, mas a verdade é que invejo até a religião. Sequer imagino como é depositar minha confiança em forças alheias. Quando penso nos meus motivos, minhas razões de lutar, meus olhos brilham e meu corpo se incendeia, mas nas noites sombrias ainda indago. Por que é que uma pessoa tão familiar se tornou tão fria? Por que sinto a ausência de afago?

A gente sempre destrói aquilo que mais ama
Em um campo aberto ou numa emboscada
Alguns com a leveza do carinho
Outros com a dureza da palavra
Os covardes destroem com um beijo
Os valentes com uma espada.

     Talvez Oscar Wilde estivesse mesmo correto. Talvez ele fosse pontual ao ponto de ser sublime. Talvez, apenas talvez, ele tenha vislumbrado as coisas exatamente como são. Talvez o destino de todos os amantes seja a destruição. Sou prolixo, anunciei bem antes. Começo a falar de amores, esplendores e termino em diamantes. Não sei bem expressar como é que me sinto. Sei, porém, que não sei evitar não ser sucinto. O que é que há para mim agora ou depois? Por que insisto em falar de mim como se eu mesmo fosse dois? Creio, porém, que os que possuem bons olhos possam enxergar exatamente tudo o que há para ver. Detalhes. Coisas frágeis... Coisas pelas quais almejo viver. Escrever livros, beber café, rir alto e vivenciar o amor, mais do que tentar explicá-lo. Um descuido, porém, as crenças se abalam e escoam pelo ralo. Somos assim, até mesmo os mais fortes de nós, completamente vulneráveis. Morremos de centenas de jeitos diferentes todos os dias. Quem é que liga para os de empregos menores? Quem não os trata como fantasmas? Quem vê poesias? A praticidade do mundo me assusta quando somada com a seriedade objetiva das pessoas. Uma imagem de coragem brilha na escuridão e minha luz batalha contra as trevas. Todos são assim assustadores?

Devemos ensinar os nossos temores a nos temerem

     Neil Gaiman está certo. Essa talvez seja a única maneira saudável de existir. O que mais me apavora é realmente o que me impede de sorrir? É assim que tenho me sentenciado. Um olho no presente e outro sempre distante no longínquo passado. Essa é a receita perfeita para que tudo dê errado. Bem, se sei como me errar, por que, enfim, não acerto? Por que não consigo afastar a letargia e me sentir desperto? Por que é que memorizo nomes, jeitos e vozes de pessoas que mal conheço? Por que é que leio tão bem tanta gente do avesso? O dever do escritor é mostrar ao mundo em que vive o próprio mundo em que vive. Será possível que todos sejam tão cegos assim? Não. Quem não vê sou eu. Quem não sente sou eu. Nem sei se posso ser mais do que sou ou sentir mais do que quero. Sei que pouco sei, porém, por este motivo não me desespero. Quando me olho já não corro. Oscilo entre meus vinte e seis, meus oitenta e meus cinqüenta anos de idade. Há instantes em que sou criança novamente. Meu coração sorri com serenidade para o mundo e raios de sol despertam algo adormecido em mim. Corro pelas escadarias do meu próprio ser rindo e chorando de tudo o que um dia foi, de memórias perfeitas e estilhaçadas que significam tudo e também nada. Somos todos são especiais, vocês percebem? Este é o ano mais longo que já vivi e até ele está prestes a se findar. Mudei completamente, mas mantive minha essência intacta. Por todas as experiências minha alma é grata. Uma única coisa que em mim permanece estável: não sou vendável. Que os vendavais levem todo o resto. Mais uma semana se inicia e é tempo de correr atrás do que é meu. Dei três passos para trás para pegar impulso e disparar. Olhei nos olhos dos meus maiores objetivos. É tempo de realizar sonhos. Vi quem sou e pela primeira vez senti que poderia cruzar o deserto por meus próprios ideais. Sorri ao lembrar de uma frase de Exupéry. 

São os caminhos invisíveis do amor que libertam o homem. 

     Sinto-me liberto. A sensação me basta e me sinto repleto de alegria. Sou grato pelos últimos dias. E você? Agradeceu recentemente por sua sorte? Outra semana se inicia, sorria e seja forte. 




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