terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A vida é um poema maluco

     Viajei por uns dias. Superei aquelas tão típicas semanas de tristeza e placidez. Quiseram me encarar de frente e pela primeira vez estreitei ligeiramente meus olhos para espiar de volta. Não encontro resposta, pois noto que mal sei qual é a pergunta. Entrego-me aos devaneios diurnos. Imagino meu cachorro correndo em minha direção. Ele chora de alegria pela minha presença. Os melhores sentimentos do mundo se fundem em algo sublime. Existe alguma besteira qual já imaginou repetidas vezes? Algo que ache tão singular e exclusivo ao ponto de que se considere bizarro? Tenho várias, mas aí vai uma... A alma de meu cão Link é tão bonita que, acaso eu tenha um filho depois da morte do meu cachorro, rogo para um deus qual não acredito, que faça com que a alma do meu cão seja a mesma da minha prole. Bobo, não? Ora, o que você saberia sobre isso, sobre amor, se nem mesmo gosta dos animais?

     Tenho me tornado mais frio pelo acúmulo do sofrimento, mas não me importo. Reservo minha cautela para os detalhes que a maioria não deseja ver. Às vezes me emociono ao observar a paisagem que me cerca. Quase qualquer coisa basta. O canto dos pássaros, um documentário sobre a vida marinha, elefantes, ostras, sapos coloridos. Atento, admiro os relâmpagos que me chamam. Isso soa estranho? Tenho compreendido minhas partes e, por conseguinte, consigo entender melhor as partes dos outros. Sou gentil, mas não completamente empático ou sensível. Chore se sentir vontade, meu caro, mas se estiver passando mal, não vomite no chão da minha sala. Eu vou cuidar de você, mas conserva a ti mesmo um pouquinho de pudor e de higiene para que possamos ser sociáveis um ao outro, ok? Veja, eu mesmo vomitei mais vezes na vida do que você. Pelo que me aparenta ser um longo período, eu apenas colocava tudo para fora. Durante essas crises de febre alta, ardendo em delírios, uma vez notei que minha força para o combate inspirava meu próprio declínio físico. Eu era um ferrenho desafiante contra as inverdades do mundo, mas que é que eu poderia fazer diante de uma realidade tão dura? Ah, você pensa que me encurralou, pois outro dia gastei minha saliva discorrendo sobre como a vida por aqui é inefável. E é, porém, também não é. O que se pode fazer a respeito dos maus e dos intragáveis? Danem-se eles, você pensará. Ainda podemos recolher-nos em uma bolha com duas ou três pessoas boas, que, definitivamente são melhores do que a maioria dos vis oportunistas que nos cercam. São mesmo? Dê tempo ao tempo e verá. Seu herói sem máscara, talvez seja apenas um vilão comum. Notará ainda que até mesmo um mau sujeito pode se cansar de vilanias e iniciar uma busca por um futuro auspicioso. Vale se apegar a qualquer resquício de redenção. Enfim, na beirada do abismo, chega à indagação, por que é que devo continuar?


     Nada faz sentido, mas lá atrás houve coisa certa que sentido fez. Foram apenas dias, embora, no coração estejam revestidos por uma muralha de ouro, intocados em forma de boas recordações por toda a eternidade. Você, vendável, sabe que daria tudo o que tem para repetir aqueles lampejos de felicidade pura e genuína. Não se vê essa alegria no meio dos períodos quais a desfruta, de jeito maneira. Também deixa de perceber a intensidade do momento até que o tenha vivido. Depois, somente depois é que se toma nota que desejaríamos que aquele passado fosse infinito. Você, porcamente altruísta, pois não pensa honestamente com empatia, conhece o seu próprio preço e reconhece, ainda que jamais diga, por onde é que estaria andando neste estágio da vida se pudesse fazer diferente. Egoistamente, você até arrastaria três ou quatro pessoas com você, não mais que isso, pois saberia que o aumento do número de pessoas faria crescer diretamente a diversidade de interesses, tal qual, você teria os seus próprios desejos arriscados ao fracasso. Pois, você tem alguém que caminharia com você? Deixe-me ser mais claro: possui alguém que dividiria a estrada contigo, mesmo que soubesse que lá no fundo sua alma é sórdida, vil e abjeta? É irônico o quanto somos submetidos a uma diversidade de ironias. Não há os completamente bons e nem os inteiramente maus, mas reluto em admitir que a vida toda, toda vida, tudo seja sobre um jogo de interesses. Meus interesses, por sinal, renascem todas as manhãs e morrem com o lusco-fusco. Existe salvação para quem desaprendeu a ter uma relação de amor duradouro com o mundo ou este novo amor, honesto e mutável, é uma nova versão minha? Não faço sentido. Talvez não precise fazer... Que mania idiota é essa que tenho de querer compreender o mundo inteiro?


Acaso pensa 
que existe um 
esquema para tudo? 
Ele tenta, 
Insiste e não aprende
A vida é um poema maluco. 

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