Viajei por uns dias. Superei aquelas tão típicas semanas de tristeza e placidez. Quiseram me encarar de frente e pela primeira vez estreitei ligeiramente meus olhos para espiar de volta. Não encontro resposta, pois noto que mal sei qual é a pergunta. Entrego-me aos devaneios diurnos. Imagino meu cachorro correndo em minha
direção. Ele chora de alegria pela minha presença. Os melhores sentimentos do mundo se fundem em algo sublime. Existe alguma besteira qual
já imaginou repetidas vezes? Algo que ache tão singular e exclusivo ao ponto de
que se considere bizarro? Tenho várias, mas aí vai uma... A alma de meu cão
Link é tão bonita que, acaso eu tenha um filho depois da morte
do meu cachorro, rogo para um deus qual não acredito, que faça com que a alma
do meu cão seja a mesma da minha prole. Bobo, não? Ora, o que você saberia
sobre isso, sobre amor, se nem mesmo gosta dos animais?
Tenho me tornado mais frio pelo acúmulo do
sofrimento, mas não me importo. Reservo minha cautela para os detalhes que a
maioria não deseja ver. Às vezes me emociono ao observar a paisagem que me
cerca. Quase qualquer coisa basta. O canto dos pássaros, um documentário sobre
a vida marinha, elefantes, ostras, sapos coloridos. Atento, admiro os
relâmpagos que me chamam. Isso soa estranho? Tenho compreendido minhas partes
e, por conseguinte, consigo entender melhor as partes dos outros. Sou gentil,
mas não completamente empático ou sensível. Chore se sentir vontade, meu caro,
mas se estiver passando mal, não vomite no chão da minha sala. Eu vou cuidar de
você, mas conserva a ti mesmo um pouquinho de pudor e de higiene para que possamos ser sociáveis um ao outro, ok? Veja, eu mesmo vomitei mais vezes na
vida do que você. Pelo que me aparenta ser um longo período, eu apenas colocava
tudo para fora. Durante essas crises de febre alta, ardendo em delírios, uma
vez notei que minha força para o combate inspirava meu próprio declínio físico.
Eu era um ferrenho desafiante contra as inverdades do mundo, mas que é que eu
poderia fazer diante de uma realidade tão dura? Ah, você pensa que me
encurralou, pois outro dia gastei minha saliva discorrendo sobre como a vida
por aqui é inefável. E é, porém, também não é. O que se pode fazer a respeito
dos maus e dos intragáveis? Danem-se eles, você pensará. Ainda
podemos recolher-nos em uma bolha com duas ou três pessoas boas, que,
definitivamente são melhores do que a maioria dos vis oportunistas que nos
cercam. São mesmo? Dê tempo ao tempo e verá. Seu herói sem máscara, talvez seja
apenas um vilão comum. Notará ainda que até mesmo um mau sujeito pode se cansar
de vilanias e iniciar uma busca por um futuro auspicioso. Vale se apegar a
qualquer resquício de redenção. Enfim, na beirada do abismo, chega à indagação,
por que é que devo continuar?
Nada faz sentido, mas lá atrás houve coisa certa que
sentido fez. Foram apenas dias, embora, no coração estejam revestidos por uma
muralha de ouro, intocados em forma de boas recordações por toda a eternidade.
Você, vendável, sabe que daria tudo o que tem para repetir aqueles lampejos de
felicidade pura e genuína. Não se vê essa alegria no meio dos períodos quais a
desfruta, de jeito maneira. Também deixa de perceber a intensidade do momento
até que o tenha vivido. Depois, somente depois é que se toma nota que desejaríamos
que aquele passado fosse infinito. Você, porcamente altruísta, pois não pensa
honestamente com empatia, conhece o seu próprio preço e reconhece, ainda que
jamais diga, por onde é que estaria andando neste estágio da vida se pudesse
fazer diferente. Egoistamente, você até arrastaria três ou quatro pessoas com
você, não mais que isso, pois saberia que o aumento do número de pessoas faria
crescer diretamente a diversidade de interesses, tal qual, você teria os seus
próprios desejos arriscados ao fracasso. Pois, você tem alguém que caminharia
com você? Deixe-me ser mais claro: possui alguém que dividiria
a estrada contigo, mesmo que soubesse que lá no fundo sua alma é sórdida, vil e
abjeta? É irônico o quanto somos submetidos a uma diversidade de ironias. Não
há os completamente bons e nem os inteiramente maus, mas reluto em admitir que
a vida toda, toda vida, tudo seja sobre um jogo de interesses. Meus interesses,
por sinal, renascem todas as manhãs e morrem com o lusco-fusco. Existe salvação
para quem desaprendeu a ter uma relação de amor duradouro com o mundo ou este
novo amor, honesto e mutável, é uma nova versão minha? Não faço sentido. Talvez
não precise fazer... Que mania idiota é essa que tenho de querer compreender o mundo inteiro?
Acaso pensa
que existe um
esquema para tudo?
Ele tenta,
Insiste e não aprende
A vida é um poema maluco.
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