segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Vazio existencial

     Escrevo para me esquecer. Escrevo quando sinto que preciso: não divido meus hábitos e nem creio em paraísos. Escrevo para te esquecer. Esqueço (escrevo) para me lembrar. Escrevo, pois já não sei se vale a pena continuar. Escrevo, ainda assim, por sentir o mal estar do mundo inteiro. Escrevo por conta das pequenas mentiras que conto, mas elas não me tornam menos verdadeiro. Ainda sou capaz de ferir a qualquer pessoa com minhas aspereza sincera. Escrevo mais, pois não sei mais o que há. Esqueço para desconhecer quem um dia foi tão bela. Escrevo porque nada vale a pena, porém, sinto que um dia valerá. 

     Não pude diminuir a distância de Campo Grande até a Nova Zelândia ou até o Japão. Não pude diminuir a distância da sua ausência no vácuo que se fez no espaço que te pertencia no meu coração. Eu fracassei outra vez. Era isso o que você gostaria de ler? É estranho, mas ainda quero que você tenha consciência sobre algo. Eu vou dizer apenas uma vez, pois não estou louco. Tudo o que não fez por mim soube que fez em nome de outro. É assim que é. Dói? Não posso diminuir distâncias, mas posso ir até lugares mais próximos. Acredita que até já tentaram me resgatar? Ri da ironia da situação. No fundo do poço, eu recusei a mão amiga para permanecer na escuridão. 

     Existe uma diferença substancial que nos separa. Você acredita que deve viver para bajular os outros. Acredito que devo viver por mim. Essas epifanias me fazem te enxergar como um porco, mas, pode não ser assim tão mal. Soube que na China é o ano do porco, afinal? Não sei sobre o que discorro, mas sinto que se não liberar essa rebeldia, eu morro. Não, não morro. Vivo. Eu não posso diminuir distâncias, mas recebi outros abraços no escuro. Alguém ainda iluminará minha cansada retina e me compreenderá na solidão. Até lá, tudo bem estar sozinho. O silêncio pode ser amigo. Eu não estive assim por quase todo o meu caminho? A vida é engraçada. Não posso diminuir a distância entre Campo Grande e meus amigos ou Dourados e minha felicidade ou Brasília e meu emprego dos sonhos ou São Paulo e meus irmãos. Essa nova fase, porém, é de aprendizado. Memorizei os hábitos dos gatos e assimilei o peso dos fardos. Isso não me faz querer desistir. É o peso e a dificuldade que me fazem seguir. Como você se sente?

    A gente é o que não mente. A gente é o que não mente. A gente é o que não mente. Repito até que a frase preencha meu vazio existencial. É por ser tão sozinho que me sinto anormal (especial)?

     Não divido meus hábitos. Não divido meu amor. Você me agarrará se for capaz, mas tome cuidado. Meu instinto arredio me fez fugaz. Talvez durante a noite tranquila de sono profundo, imersa em sonho você me esqueça. Talvez quando você acordar a minha velha presença, enfim, desapareça. Nunca me divido. Você ainda não entendeu. Algumas despedidas são eternas e você não vê. Acha que a crueldade se romantiza. Em algum lugar eu paro e espero por você?

Eu parto como o ar
Sacudo minha neve branca ao sol que foge
Desfaço minha carne em redemoinhos de espuma
Entrego-me ao pó para crescer nas ervas que amo
Se queres ver-me novamente, procura-me sob teus pés
Dificilmente saberás o que sou ou o que significo
Não obstante serei para ti boa saúde
Filtrarei e comporei teu sangue
Não me encontrando, não se desespere
O que não está numa parte está noutra
Em algum lugar eu paro e espero por você

Walt Whitman 

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