quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Terça-feira

     Era lá por 18h30 ou qualquer horário parecido com esse. Os meus compromissos todos deixei de lado para fazer coisa tão espetacularmente importante como coisa nenhuma. Recentemente algumas pessoas me soaram especialmente estranhas, pois manifestaram interesse em mim. O que é que eu faço de tão interessante? Nada. Às vezes não me entendo e nem quero me entender e às vezes a meticulosidade das minhas ações me faz desejar tudo o que eu não posso querer. 

     Perguntam-me em anonimato sobre namoros e rolos e medito sobre os fracassos. Interesso-me por três mulheres de mundos completamente diferentes e rezo para que uma força divina possa colocá-las em meu caminho. Uma delas apareceu vez ou outra e não houve divindade que me ajudasse no que dizer. Eu que quase sempre sei o que falar havia me esquecido da minha própria língua. Tropeça em mim e faça uma extravagância, menina. 

     Emudecido com essa lembrança, frustro-me, é tempo de arriscar e juro pelos meus juramentos que não vou mais fraquejar de maneira tão simplória. Eu me comprometi com a sombra das coisas que já haviam partido e isso me impediu de viver plenamente por muito tempo. Não é como se existisse algo nítido e palpável que interrompesse a minha vida, mas, de um jeito ou de outro, era como se minha versão de outrora não aceitasse o final apresentado. E se eu já vivi toda a história de amor contido em um conto romântico com uma pessoa, qual será a graça real com a próxima? 

     Meu estado de espírito se amarga, mas não por muito tempo. É que meu cachorro Link aparece sorrindo o seu melhor sorriso pra mim e pronto para brincar. Minha gata Nami sobre na mesa e não se importa em deitar em cima do teclado e do meu braço. Se eu continuar digitando meu texto, ela me morde de leve como quem avisa amigavelmente para que "não escreva agora, pois ela quer dormir". Lúdico, interpreto essas interrupções como sinais. Não é que eu deva escrever sobre amor ou procurar amor, mas simplesmente que eu deva viver e aproveitar a minha vida. 

     Arrisque-se! A vida passa!

     Li o anúncio e fiquei pensativo. Qualquer palavra é suficiente neste dia para me deixar contemplativo. Olhei para uma aranha no teto do quarto, respirei fundo, pois da vida me sentia farto, mas logo continuei com meus textos. Um dia ainda me aprumo, conserto sempre meus rumos, sempre me mudo e continuo eu mesmo. Sou luz que finda o escuro, mas sozinho tenho me sentido mais escuro. Perdi um pouco do medo de vagar a esmo. 

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