Prometer revelar o segredo de um
mágico deveria ser o suficiente para atraí-los para esta leitura, porém, sou um
bom ouvinte e costumo entender as
pessoas; escutar os sons que produzem, assim, eu imagino que os que
permanecerão aqui são menos da metade dos que inicialmente cogitaram ler.
Revelo por antecipação que os magos, não só os que voam e invocam os poderes da
natureza, mas também os que entendem de ervas e conseguem se comunicar com os
animais e o mundo, são em regra, sujeitos muito simples. Eles não costumam dizer
bom dia, são de ínfimos metodismos e
odeiam a rotina. Suas carrancas de desespero são cômicas, suas expressões de
fúria são incredulamente assustadoras, porém, quem viu um mago ou qualquer
criatura capaz de fazer magia sabe do que há de mais notável neles: o riso. Aquele
ser estranho, quiçá etéreo, gargalha tão espetacularmente que os pássaros riem
em coro, acompanhando o fluxo de uma energia tão bela e pura. Geralmente são
barbudos e possuem uma aparência suja, pois Deus
se esconde no mendigo e o bom só é bom quando pratica a bondade sem
expectadores.
Outro dia, eu me encontrei com um mago
melindroso. Seu nome ofende muita gente, pois assim me vejo obrigado a protegê-lo.
Apesar dos meus esforços em defendê-lo, ele riu de mim até sua barriga doer.
Escutou os meus dramas, compreendeu o meu sofrimento pelo menos até o limite qual é possível tentar, ofereceu-me um
instante prolongado de luto, fechou-se em silêncio e rompeu aquele ritual
padrão com uma risada sonora e ribombante. Corei e senti minhas bochechas esquentarem,
mas evitei os espelhos para não me ver enrubescido. Os figurantes da sociedade
me fitaram por um instante, como se aquele momento fosse derradeiro e eu,
obsceno por ter chamado a atenção, ainda que involuntariamente, possuísse uma
espécie de dever de me desculpar ou de me enaltecer pelas atitudes do meu
amigo. Calei e me julgaram tão ridículo quanto o mago, que ainda soluçava de
tanto rir. Por que fez isso? Perguntei
sem ter a certeza do motivo pelo qual estava incomodado. Por que não? Ele me respondeu e se levantou. Eu quero tomar sorvete de flocos com cobertura de caramelo. Não tenho
mais tempo para a sua miséria, exceto se tomarmos sorvetes.
Sua maneira de ser persuasivo era
estranha, creia-me, mas uma hora depois estávamos tomando sorvetes. Olhe, não, não olhe. Apenas escute. A insuficiência
em si é que faz crescer o medo. A projeção do que queremos ser, justo em cima
do que somos, e o que “ainda” somos sempre flertando com a ideia do que já deveríamos
ser, é o que mais nos apavora. Não se trata de formação intelectual. A dúvida
moral, os questionamentos, a necessidade de culpar alguém pela sua vida
ridícula é o que te afasta de nós (os magos). Ser insuficiente aos olhos dos
pais é frustrante. Ser insuficiente aos amigos é desesperador, contudo, ser insuficiente a si mesmo é morte. Na hora do perigo, discretamente sua mente tenta fugir para alguém em quem
confia para se apoiar. Frequentemente seu apoiador vira uma ilha para a fuga,
seu escape no mundo. Um dia, quando você não precisar mais dele, você vai deixá-lo,
pois a vida é assim. O fato de não ser divertido como deveria, inteligente como
deveria, ter dinheiro como deveria, nada quer dizer. Nada é nunca como
supostamente deveria. Veja, não, não veja, apenas escute. Viu como eles me
olharam quando eu ri alto na lanchonete? É a ideia se formando ao redor de você
e se apoderando, como um chiclete que gruda no cabelo. Você arranca pedaços do
chiclete e ele se vinga. Não raramente ele deixa uma marca feia, pois tudo o
que gruda por tempo suficiente dá trabalho para sair. Não é necessário ser
apenas uma direção, enclausurado em expectativas de pensamentos medíocres. Você
pode ser tudo. Segure na mão uma estrela cadente. Devore o mundo.
Ele disse que ia ao banheiro e
desapareceu. Aquilo me divertiu, pois me lembrei de um amigo que não via há
anos. Entretanto, eu mastiguei seus conselhos lentamente e tentei achar sentido
no sentido que já havia, piscando como um letreiro luminoso em uma noite de
escuridão. A jornada de Dorothy até Oz, a estrada dos tijolos amarelos e os
desejos melancólicos de seus companheiros saltaram em minha mente. O leão
covarde, quando percebeu a situação adversa, virou-se e rugiu. Não notou sua
coragem, mas o ímpeto em proteger seus amigos havia lhe feito ser o que no
fundo sempre fora. O espantalho, pobrezinho, tão estúpido, foi quem organizou o
plano sem falhas para que sobrevivessem e o homem de lata, terrível, não fez mal
a qualquer criatura. Assim somos nós. Na jornada pela busca da transformação
para sermos quem desejamos ser, às vezes, não damos conta do que somos.
Valorize-se! No desejo profundo em sermos alguém diferente, esquecemos que
nascemos especiais. Se lhe amaldiçoarem, retruque com um palavrão inventado. O
segredo de Oz é que ele conhece o coração das pessoas e lhes revela suas qualidades
como o espelho revela a imagem refletida. Às
vezes já somos quem desejamos ser. É preciso ter amor próprio. E respeito. O
segredo dos demais magos, eu ainda não descobri, mas creio que tenha relação
com mirar o impossível e transformá-lo. Ontem mesmo, eu quase peguei uma
estrela cadente. Foi por um triz! Quem sabe eu não fosse hoje um mago barbudo? Quem
sabe um dia, se eu não acabar me consumindo por tantos pensamentos cruéis e
fugazes, eu mesmo não me alongue bem pelas manhãs e devore o mundo no ocaso.
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