domingo, 21 de outubro de 2018

Até mais


     Minha bisavó faleceu ontem pela manhã. Nestes momentos, aceitamos o que nos é dado, sem ter a convicção de qualquer coisa, pois nunca saberemos o que ocorre posteriormente. Devaneamos com reencarnações, lugares ermos, infernos e paraísos ou até mesmo com o nada. Desejamos pelo melhor da alma. Torcemos pelo melhor caminho seguinte. Os que partem, talvez, nos vejam de cima com um orgulho altivo. Como conhecem (agora) a próxima etapa, apenas observam alegres e saudosistas, as pessoas e o mundo que não mais a pertencem. Os que ficam sofrem, pois são eles que lidarão com a ausência. Não sei se acredito em Deus, mas rezei de coração pela alma da bisavó Palmira, pois em Algo creio e Algo há de abençoá-la pelas novas estradas. Ela viveu longamente e bem. Quem tem uma boa vida merece uma boa morte.

     Assim se vai, mas ainda fica, pois raízes são lançadas através de histórias passadas entre gerações. Ela vai. Nós continuamos. É nossos dever. As histórias e lembranças mais doces são reservadas aos mais próximos; as que eu tenho são raras e especiais. A voz marcante, chamando sempre um nome diferente; o cuidado e o carinho não eram exclusividade de uma ou outra pessoa. A insistência para que nós da família comêssemos mais um pouquinho, ainda que já estivéssemos fartos e cansados; o cheiro característico da casa, da sala, dos quartos, era de uma forma mágica também o cheiro dela.

     Vá, vó Palmira – para o sono eterno, em paz. Tantos aqui desejam neste instante um beijo, uma palavra e um abraço a mais... Mas que o adeus não seja definitivo. Quando penso naqueles que se foram e nos que ainda vão, aceno ao vento e sussurro, seguro: “Até mais”.

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