quinta-feira, 4 de julho de 2019

As coisas mudam

     Deite a sua filosofia hermética sobre mim. Fale sobre as sete leis ou qualquer baboseira com ou sem sentido, mas, por favor, deite a sua verdade sobre a minha. Destrua-me, se for capaz. Vença-me. Mostre-me sua fibra, ofenda-me como só você sabe e quando terminar de me ofender, bem, você pode começar tudo de novo. Diga que eu mereci o que houve, mas silencie o seu merecimento sobre suas próprias atitudes. Não há caráter que mude. Você não acredita em troco, certo? Tudo que vai volta. O que está acima está abaixo. Suas oscilações são reais ou convenientes? Você é o que demonstra ou esconde desesperadamente o que sente? O seu frenesi é tão fraco assim? Perdeu o fôlego? Ora, venha, eu estive te esperando. Você pode fazer melhor do que isso. Surpreenda-me com chocantes revelações sobre novos mistérios. Prossiga com suas vituperações sobre mim enquanto me equipara aos ébrios. O que é que você se sente e não quer sentir? Quem é que te impele quando você mente, mas ainda me olha e sorri?

     Você é arrogante e acha que sabe como me sinto, quando cessou o meu sentir. Você aposta muito antes sobre minhas atitudes e me espera cair. Se eu não caio, você se frustra e levanta ofendido. Sempre foi bom de apostas, mas não percebeu que neste jogo sempre esteve perdido. Então bata de frente comigo e faça, enfim, do seu jeito. Descubra o que te move e aja direito. Não se acovarde. Eu te olho e te vejo. Isso não ficou para trás e não importa o que você faça, nós sabemos, nunca há algo de novo. Tudo recomeça e você move novas peças, mas segue firme no mesmo jogo. Não passa de um viciado com instintos selvagens que engana quem olha, mas nunca enxerga. É um apostador nato que só crê em fatos e sempre presume a aposta que compensa. Seu instinto vil e barato será o causador da sua própria sentença. Há ecos de tristeza por onde você passa. Agora você ergue seu grito agudo sem qualquer puder. Pisa no que há em seu caminho e não se comove com o choro e a dor. Tudo o que é alheio nunca lhe pertenceu e nunca lhe tocou. Até o menino que desejava ser o apanhador no campo de centeio entendia mais sobre o amor. 

     O que me conforta é saber que não somos todos iguais, embora sejamos todos feitos da mesma coisa. Soo estranho ou confuso? Dane-se. Imerso nos oceanos das minhas próprias capacidades, às vezes vou fundo e quase me afogo em busca de autoconhecimento. Eu estive procurando o rosto que eu tinha antes da criação do universo, mas ainda não o achei. Conheço-me cada dia mais e tenho me permitido sensibilizar com causas alheias. Socorro animais sem ter dinheiro para pagar tratamentos, mas dou meu jeito. É assim que minha vida vai e continua. É assim que tudo continua e vai. Você me olhou outro dia e viu a dureza férrea de meu olhar. 

     As coisas mudam, as coisas mudam, as coisas mudam... Eu lembro de que te ouvi cantarolar. E é verdade, porém, você não gosta de admitir. 

     Ontem mesmo eu não tinha a altura que tenho e não sonhava os sonhos que eu sonho. Dias atrás e eu era um sujeito passivo e enfadonho. Creem na minha calmaria, mas não cometem mais tanto o erro de me subestimar. Eu me tornei alguém feliz, mas é impossivelmente irreal ser constante na condição de felicidade. A tristeza vai e volta, mas sempre acaba batendo à minha porta. Escrevi um poema sobre isso, você se lembra? Preparei o café para passar a noite acompanhado, mas até a tristeza não chega para ficar. Bebo outra vez tudo sozinho. Estou em casa e tenho intimidade com meu teclado, mas me sinto um estranho no ninho. Quando acontecerão as próximas mudanças? 

     Não sei, não sei, não sei, mas as coisas mudam, mudam, mudam e nunca cansam de mudar.
     Agora você sofre, sofre, sofre... mas eventualmente essa dor vai te ensinar. 

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