sexta-feira, 5 de julho de 2019

Rosto e Memória

Rosto e Memória

Vi o seu rosto, mas já não sabia se ele era realmente seu
Vi o meu rosto, porém, não reconheci a minha imagem 
A vertigem que senti fazia com que estremecesse o chão
O mundo girava, girava e acho que nunca parou de girar
Ao menos quando tudo estremeceu, eu me coloquei no lugar
Meu corpo jazia imóvel e eu me observava de fora 
Sentado de pernas cruzadas ao lado do Tempo
Observei os ponteiros e o constante (es)correr das horas 
Átomo de fim do mundo, suspiro eterno do momento 
Vi quando todos se apressavam em um mundo urgente 
Notei que eu nunca te esquecia
Até que me esqueci de repente 
Contemplei meu corpo tão frágil
e a profundidade dos espaços 
Admirei como você não se dobrava
Constantemente forte como o aço 
Respirei quando tudo se desolava, mas 
simultaneamente eu me isolava em cansaço
Senti em meu peito a recriação do Universo 
Recomecei a andar nos caminhos que cri 
Numa noite maldita, lançaram-me um olhar sacro 
Numa madrugada sem fim, enfim, achei algo
Uma mulher de três faces me apresentou à Magia
Vi seu rosto outra vez, reconheci-o e a melancolia se apoderou de mim
Talvez eu tenha chorado, mas ninguém viu, assim não sei se aconteceu
Vi a sua sombra se mover na noite e convidar a minha para uma Terra do Nunca
Onde nunca fôssemos nos separar e os conceitos fossem reinventados 
Onde existisse espaço para concretizar o que quer que tenha sido imaginado
Onde faíscas que se tornam explosões podem explodir para sempre 
Onde a fragilidade do amor e a necessidade de destruir se silenciariam 
Onde palhaços, jornalistas, padeiros e advogados pudessem conviver bem
Onde cada um tivesse espaço para ser o que é sem se sentir refém 
Num antro onde estivéssemos livres das garras afiadas do desdém, mas 
Alguém apagou a luz e mergulhamos fundo na escuridão
As sombras desapareceram em uma espécie de fusão  
A invernia subitamente esfriou o mais quente coração 
Perdi a memória de tudo que um dia houve em vida
A sorte de quem não é forte é ter a história esquecida? 
Vi o teu rosto e recebi a sentença de morte 
Proferida por uma espécie de cruel Rainha
Abri meus olhos e tentei correr para dentro do meu carro e fugir 
Desembainhei um olhar afiado, ergui os braços cansados, mas não pude resistir
No breu um grito abafado e uma pancada em minha cabeça: furor
Quem sabe em outra vida, eu não entenda a razão das estrelas, 
o sentido da Vida e algo sobre Amor
Morri ontem ou pelo menos matei aos pontapés e socos
O que na minha pele esteve tão marcado e exposto
Aquele estranho conto que compõe a minha história
Tudo o que lembro é que foi em meados de agosto
Seu nome, porém, é um retrato fosco
Resto de um retalho tosco
Perdi a clareza de seu rosto em minha memória

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