quarta-feira, 3 de julho de 2019

Primeira noite juntos

Estava na casa daquela mulher chamada Viviane
Embora nós soubéssemos que aquele
não era o seu verdadeiro nome
Não me detive na questão por muito tempo
Gostei do apelido que ela havia inventado
Nomes vinculam e ela apenas não queria ser vinculada
Chamei-a de Vi, pois deveria ser Vivi
para a maioria dos desconhecidos
Contou-me sobre como era conceder entrevistas
Falou um pouco sobre economia, aulas e concursos
Disse seu sabor favorito de chiclete e o que faria
acaso um furacão utópico a surpreendesse no deserto
Tomei notas mentais e observei a simetria de suas qualidades
Acham que sou raso, mas me tornei especialista em fragilidades
Vi foi até a geladeira e pegou uma garrafa
Sorriu e me ofereceu vinho e eu aceitei
Não tomei nota da precisão de seus defeitos
Hoje é a nossa primeira noite juntos e compartilhamos
a ânsia pelo prazer e o receio pela falta de intimidade
Se tudo ocorrer bem vou sussurrar que foi perfeito
Se tudo descambar vou me convencer de que não havia outro jeito
As possibilidades não se apressam, Vi é tudo o que me interessa agora
É a noite qual não importa o externo, internamente todos estamos nublados
A próxima piada pode fazer raiar o sol em um semblante desconfiado
A segunda taça foi o pretexto ideal para ter me aproximado
Uma frase errada e ela pode franzir o cenho e sair do meu alcance
Na primeira noite a sutileza dos detalhes pode deter a chance
Não leia pela minha narrativa isso como uma espécie de romance
Éramos apenas dois estranhos tentando cobrir o desconforto
Como uma música sem graça que se acelera até o conhecido refrão
Nosso interlúdio foi silencioso e não pisquei meus olhos
Veja, como vi que Vi vinha em minha direção
Ouça, como ouvi quando Vi falou sobre o seu coração
Veja como os olhos dela brilharam
rapidamente ao ouvir a minha última frase
Perceba que Vi é uma mulher de fases
Composta por transformações, tal como a lua
Seu estilo engloba todas as roupagens,
mas vi que Vi escolheu ficar nua
Quebrei a distância final que nos separava
O resto do mundo acontecia enquanto a gente se beijava
Depois mergulhamos fundo na busca pelo prazer
Até que tudo se resumisse em um mundo sem resumo
Se eu tentasse descrever, creio que Vi fosse o meu rumo
Ao final, enfim, o relógio voltou a funcionar
Nós saímos do mundo, mas o mundo não saiu do lugar
Falei sobre algumas excentricidades que me tornam interessante
e sobre besteiras que me tornam absolutamente banal
Ela sorriu como se ali existisse algo além do normal
Desconheço o que é que ela contemplou, mas acho que vi
Vi encontrando em meus olhos algo que tanto procurou
Só que ainda um mês depois eu ainda não saberia dizer o que
Enquanto isso eu pensava no trabalho que tinha ao amanhecer
Ela não se sentiu desconfortável e eu também não
Ela me ofereceu mais uma taça de vinho horas depois
Vi como Vi soou inocente desejando que eu ficasse
Segure-me rápido, pois sou fugaz, quase efêmero, percebe?
O vinho eu dispenso, pois já é hora do café
Levanto e visto minhas roupas esquisitas
Ela me avisa que a camiseta está do avesso, mas ok
O inverso geralmente é o meu lado certo
Limpo a garganta, pois tenho que ir embora
Ela quer fumar o seu cigarro, mas
hesita por de medo de me afastar
Eu nunca fumei um cigarro e me envergonho
deste segredo qual prefiro não contar
Dou um beijo suave em seus atraentes lábios
As manhãs não pedem agressividade
Pego o meu carro e vou embora dali
Pelo retrovisor vejo que Vi revive nossa primeira noite juntos
Imito-a por um instante me detendo na memória, mas
aumento a música, pois no momento prefiro mudar de assunto
É engraçado como as horas tardias diferem
Entretanto, geralmente não são esquecidas
Não há nada como uma noite inédita
Na qual emoções gélidas são outra vez aquecidas. 

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