domingo, 20 de outubro de 2019

Prolixidade de Domingo - Outubro

    Entardeci, mas lá fora já era noite. O que explica a pontualidade do meu atraso? Tenho tentado o máximo de tentativas possíveis. Percebe minhas nuances sublimes? Nota os meus feitos tão incríveis? Deixo estar. Deixo ir. Ninguém repara ou é só mais fácil viver oculto em desdém. Ninguém repara, mas o coração nunca esteve tão bem. 

    Abraço o que chamam de novo. Conheço e geralmente vou embora. Oscilo entre o andarilho fugaz e o regente esquecido de melhores horas. Quase ninguém me alcança. Quando não enxergo de modo sensato, frustro-me, mas logo dou de ombros e me resigno. Só pode ser por conta do meu signo. Aceito a miserabilidade da minha condição diante da inevitabilidade da vida e respiro fundo. Às vezes sinto que posso mudar situações e até o mundo. Outras vezes não. É a ingenuidade que me afasta de ver a vida dessa maneira simples? Tenho aprendido tanto sobre mim. Nota? A lucidez é tão perigosa quanto a loucura. O que é que dura? 

    A vida é dura, porém, é preciso seguir em frente. Os dias parecem iguais, mas é logo mais que tudo fica diferente. Nada nunca volta ser como um dia foi e a gente é pego desprevenido assim. Pensando no que pensar, amando o que não se pode amar, vislumbres de novos começos com gostos de fins. Sorrio com bobagens e observo os movimentos de um inseto. No espelho vejo a minha imagem e reparo que nunca me senti tão completo. Outrora eu era uma criança tão quieta e um adolescente tão discreto. Aprendi muito mais quando estive só, mas não quero mais estar sozinho. Compreender a jornada é ter a certeza de que a felicidade existe em qualquer dos caminhos. É possível ser feliz diferente do jeito que nos acostumamos a imaginar. A felicidade não é apenas um lugar. 

    Sou feliz e o tempo passa. Ontem estacionei o carro e observei a madrugada pela vidraça. Ela embaçava cada vez mais... O clima mais frio e o mundo mais morno. A vida parecia com o meu contorno. Eu dormi em junho e acordei em outubro. Ergui meus punhos e mudei meu rumo. Somos o que acreditamos ser. Escuto, pois tenho sempre o que aprender, mas repito no embalo e falo o que às vezes a gente finge que esquece saber. 

    Nem tudo é sobre dinheiro, mar calmo não faz bom marinheiro e a ilusão é o maior prazer? 

    É? Quem sabe o que sabe é mesmo melhor? Quem sabe o que sabe se basta para criticar o que existe ao redor? A tristeza se espalha e cada um mergulha na própria batalha. Alguns lutam e perdem; outros lutam e vencem; outros sequer lutam. Paciência! A resolução dos conflitos é interna e não existe tempestade eterna e as coisas são como devem ser. De um jeito ou de outro, lentamente ou num sopro, a vida está preparando você. 

    Anoiteci, mas lá fora já era madrugada. Tomei um gole de café, entrei no meu carro e parti para uma nova estrada. Enfim, eu compreendi que precisava perder o medo do escuro.

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