O meu jeito de ser é hoje qualquer coisa mais prática. Antes príncipe das fantasias, agora devaneio apenas com hipóteses fáticas. O meu intenso amar e sofrer me transborda. Condenado por não fazer segredos, sinto como se voluntariamente buscasse essa espécie de degredo.
Partes distintas que nos formam. Alvo da zombaria, eu dou de ombros e sorrio, pois a provocação alheia incendeia o meu peito. Gente de verdade se faz na reação para com a dor, nunca de outro jeito. Exprimo o que resta de sublime em mim. Deixa pra lá, tanto faz, não é mais? Tem que ser assim!
Qualquer tipo de redenção é irreal. Há ali apenas o retrato de uma ilusão conveniente. Nascemos condenados? Eterno sofrer em um mundo que gira rápido, relógio constante que se acelera e desacelera, cântico proibido do infinito, barulho ancestral das estrelas. Todas essas coisas belas? Serei capaz de descrevê-las?
Apoteose da solitude. Exista por você mesmo e seja o Senhor Supremo de suas atitudes.
Lá ao longe encontro a vaga incompreensão dos que fingem compreender e percebo que existo só. Ninguém suspeita, eu tenho certeza, do tamanho da minha lealdade para comigo. Seguiria leal, ainda que o meu destino fosse viver sozinho.
Nos solilóquios sei que estou simultaneamente certo e errado. Encerrou-se no ocaso o que nem havia começado. A irritação transbordou pela pele e nomes antes tão importantes, enfim, somem na inconstância do ser e sentir acompanhados pela volatilidade de tudo o que é vulgar. Envergonhado admito não saber de muitas coisas, mas sei bem o meu lugar.
Tempestades de primavera. Só os tolos não admitem que erram. Só os falsos não sentem medo. Os vícios são comuns e não me levam ao desespero. Nunca mais facilitei o meu próprio destempero. Só a extravagância me incomoda e esta se difere muito da exuberância natural dos naturais.
Minhas partes fúteis tentam me dominar e conseguem. A respiração volta a se tornar pesada. Mato meu tempo antes que o peso de não sacrificar os minutos me invada. Sinto que valho pouca coisa ou nada. Dentro de um carro avanço contra a madrugada gelada.
Quando tudo se perde noite adentro, eu piso no acelerador. Desbravo novos bairros, enfurnando-me em novos caminhos. Até posso me perder, mas sempre me encontro quando estou sozinho. A solidão possui o seu valor. Só quem sabe viver bem quando solitário é capaz de cuidar do amor.
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