terça-feira, 29 de outubro de 2019

Prólogo - A última parada antes do começo do fim

     Resolvi hoje iniciar os relatos do capítulo final do meu começo. A intenção é antecipar o gosto do meu final, seja ele de alegrias ou tristezas, pois tudo na minha vida convergiu para os eventos que acontecerão nos próximos dias. Não acabou ainda. Como o ciclo da lagarta na transformação em borboleta, quero-me ver alado para sentir que posso me desnudar de uma vez por todas, mudança completa e inequívoca. Já rastejei por tempo demais. Disseram-me que quanto mais você mostra o que sente por dentro, maior é a sua liberdade, não? O relato de meus dias cumprirá-se então se eu for apenas livre, ainda que falhe em alcançar a felicidade. Conscientizei-me de coisas estranhas no processo. Cada pessoa persegue algo, ainda que não saiba, mas nem todo mundo deseja ser feliz. Você vai descobrir que no início disso tudo eu tinha uma família e agora ela já não é a mesma; vai saber que eu tinha um objetivo único e certo, mas que eu talvez tenha mudado no caminho de atingi-lo, por tê-lo atingido ou tenha apenas mudado o objeto alvo de meus ávidos olhos. Se fracassei ou não, você saberá depois. Descobri-me expansivo e compreendi minhas superficialidades. Livrei-me de quase todas. Contarei-lhes que amei três vezes e que achei que amei algumas tantas outras e você entenderá de como fui do homem que matava o charme para alguém com a presença óbvia de quem se impõe sem a necessidade de se impor. Antecipo que morei sozinho duas vezes e acompanhado uma. Também lidei com perdas definitivas na vida e na morte. Sorte minha é que considero meu apartamento confortável, embora deixe a desejar no luxo. Tornei-me afável, mas às vezes ainda sou esdrúxulo. A minha sensibilidade se aguça mais com o passar dos dias e meus novos talentos brotam como ervas daninhas. Vivi algumas histórias e cometi erros, mas sobretudo estive por aí tentando tentar o meu melhor. Anos aconteceram dentro de meses e houve noites que jurei sentir o sabor da eternidade nos sucessos e revezes, ainda que o para sempre seja uma ilusão pueril existente nos corações mais doces. Talvez você se antipatize com minhas excentricidades, porém, não pretendo escondê-las. Só tomo café em xícaras de barro, água em copos de plástico e sonho em ser uma estrela, sem metáforas. Trabalhei e amei até a exaustão. Fui falar de amor e escrevi uma canção. Personifiquei os quatro Erotes de uma vez em flertes perfeitos e outras vezes fui patético como uma criança perdida. Calei-me na hora da fala e falei quando todo mundo se cala. Fiz barulho nos cinemas, gastando o meu fôlego até a última cena. Equacionei mais do que Pitágoras, sonhei mais que Dom Quixote, mas falhei em ser outro. Emagreci, engordei, sorri e chorei na esperança vã de que Fernando Pessoa estivesse certo, mas a dor me fez desconfiar. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena? Agora me acompanhem numa jornada de volta até que cheguemos a este ponto. Se não me notaram até aqui, enfim, agora muitas coisas vão saber. O próximo capítulo começa com o meu nome. Prazer em te conhecer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário