quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Amizade incondicional

     A Isabela é o meu primeiro troféu de 2019. Ela jura por Deus que eu tentei flertar com ela quando nos conhecemos, mas se ela me respeitasse o suficiente saberia a diferença (e que sou muito melhor que isso no flerte, porém, não tanto). Perdido em um rolê desses no meio do nada, eu estava conversando com outros dois bons amigos. Acredito que reclamávamos da música tão estranha que tocava na casa cheia de árvores da Rua Laguna 26 qualquer coisa, quando ouvi alguém pronunciar a palavra troféus. Surpreso e feliz pelo acerto, eu me senti simpático, como quase nunca fui capaz de ser e ainda sem estar embriagado, virei-me e cumprimentei essa mulher desconhecida. Ela me olhou com desconfiança e seu olhar me perscrutava como quem desejava adivinhar meu próximo movimento. Certamente imaginava em uma péssima suposição que era só mais um desses caras que flerta com todo mundo, mas tudo bem, eu a perdoei. Não sorriu tanto, mas conseguiu ser simpática. Conheci um amigo dela nessa noite também que parecia pronto para jogar basquete. Ela conheceu dois dos meus. Eu não me lembro direito como termina o começo disso tudo, mas antes que o mês se encerrasse a Isabela já era parte da minha vida. Tivemos uma dessas conexões de filme. Não sei também como ela conseguiu, mas se fez importante e presente, como a gente aprende que nem todo amigo é capaz de ser e estar. Somos parecidos na maneira de pensar, ela milita muito mais que eu, mas nos damos bem. Escala por seus objetivos pessoais e entende suas responsabilidades. Admiro também a capacidade que ela possui de ser franca e fazer exatamente o que quer. Já batemos de frente e isso só fez crescer o respeito. Ela é uma pessoa tão livre e instintiva que de quando em quando nem parece ter inseguranças. A Isabela gosta de Senhor dos Anéis também e isso contribuiu para que eu a quisesse por perto imediatamente. Ocasionalmente ela me busca para lancharmos e quase sempre rimos muito. Ela nunca me deixa esquecer de quando abracei um velho por engano. No meu aniversário ela foi a primeira a me mandar mensagens entusiasmadas e alegres e eu sorri por ter conquistado uma amizade tão preciosa. A frase que ela mais me diz é... "AMIGO, VOCÊ É TUDO". Saímos algumas várias vezes, bebemos juntos poucas (ela geralmente carrega 21 garrafinhas de água no carro dela), mas conversamos rotineiramente, rimos sempre e solidificamos, dia após dia, uma amizade que parecia ter sido predestinada. Hoje sei que somos amigos até no esgoto. 

     Se há qualquer tipo de predestinação nesta vida, eu não tenho como supor que o meu encontro com o Luís tenha sido qualquer coisa menos que isso, obra pura do destino. Dias antes de nos conhecermos, eu fui alertado que ele era uma espécie de minha versão italiana, mas antes, voltamos à improbabilidade das hipóteses e encontros. Conheci por G uma pessoa I que se tornou minha amiga e em um futuro não muito distante, eu me afastaria definitivamente de G e I. I, porém, era parente de F e logo me tornei amigo de F que namorava X. Demorei a conhecer X, tendo em vista que a rotina na cidade de Dourados me dava três horas de fôlego por dia (sem contar o tempo que eu dormia), mas certa noite conseguimos nos encontrar e X era bem legal. Nos aproximamos e ele foi e voltou umas poucas vezes de Dourados comigo. E foi X quem acabou me convidando, mesmo sem me conhecer tanto assim, para integrar uma mesa de RPG. Nesta altura da narrativa, vocês já sabem quem é quem e no incrível dia da primeira sessão, eu conheci o Luís (Luigi), o Jorge, a Ana e o Vini. Os outros presentes eu já havia conhecido no final do ano anterior. Não marco o lapso temporal do primeiro para o segundo encontro, mas certamente foi durante o carnaval que a nossa relação de amizade se estreitou. Paizão e Luffy andando juntos por aí quase o tempo inteiro, rindo e se divertindo sem parar. O Luís (com S) escreve, assim como eu. O Luís dança e é muito mais carismático do que eu. Ele tenta ser a voz da razão e é um homem difícil (eu também queria, mas não agora). Eu e ele somos pessoas diferentes, partes diferentes de algo que às vezes parece ser uma coisa só. Foi com o Luís que tive a melhor briga da minha vida. Nunca antes um amigo foi tão honesto, direto e agressivo, exatamente como eu tenho o hábito de ser, sem jogos ou melindres. Ao término, eu me desculpei, pois reconheci que o ponto de partida da confusão era exclusivamente de minha responsabilidade. Ele se desculpou por ter desviado do assunto e ter evocado outro tema. Tudo se sucedeu subitamente! Fomos incrivelmente ríspidos e sinceros e em menos de dez minutos resolvemos um problema, um contratempo, que outras pessoas transformariam em novela ou nunca resolveriam. Luís é o cara mais genuíno que já apareceu na minha vida e está sempre a me elogiar e a elogiar todos. Ele faz parte dos amigos nerds e podemos falar de One Piece e outros animes também. Também se fez como um amigo para todas as horas, o cara com o qual posso desabafar e ser cem por cento quem eu sou, revelar minhas fraquezas sabendo que não há margem de risco para que ele as use contra mim. O Luís é um tipo raro de amigo que todo mundo deveria ter. Ele sempre está ali quando preciso e ele sabe que a recíproca é verdadeira.  

     Nós três somos diferentes sim e até já brigamos, mas nunca criamos novelas em cima de nós mesmos. Aqui nós prezamos um pelo outro e isso engrandece nosso valor humano e enobrece a caminhada. Eu sei reconhecer o valor dos meus grandes amigos e eles sabem reconhecer o meu, assim, confesso-lhes que raras vezes me senti tão tranquilo e feliz sobre amizades. Eles me entendem e eu os entendo. Achatamos os goombas nesta vida, pois também é preciso. Sabemos que podemos amparar um ao outro na queda. Sabemos que podemos incentivar o voo e alcance máximo alheio. Compreendemos os momentos de cada um e torcemos pelo sucesso individual, pelos sonhos, pelos amores, pelos grandes objetivos realizados, ainda que o êxito um dia possa nos distanciar. Tudo bem! A vida é como é e o futuro é incerto, mas no tempo presente receio que eu não tenha alternativa senão declarar meu amor por eles. Ansiamos por nos rever quando a ausência se faz demasiadamente longa. Usamos várias gírias de um dicionário próprio, repleto de expressões que a humanidade nunca viu e com alguns neologismos que me fazem rir. Somos amigos aqui neste momento, mas somos amigos em tempos passados quando ainda não havia sido inventado o conceito de amizade. Fomos amigos em outros países, outras dimensões, outras cronologias, mas nos reencontramos, enfim, numa simples cidade. Contra qualquer tipo de expectativa, aqui estamos e somos, apenas como podemos ser, sem vaidade. Consciente sobre quão é difícil achar no mundo quem seja capaz de nos achar, eu agradeço por vocês terem aparecido. Talvez eu tenha achado vocês, mas vocês me salvaram quando soube que poderia chamá-los de amigos. Vocês são meus tesouros de outras vidas e independentemente do que aconteça, vocês se fizeram presentes como ninguém mais. Cronologicamente adiantado, eu tive um vislumbre de tudo que acontece depois e só pude me achar com um sorriso no rosto. Talvez fosse apenas um sonho, mas acho que a Isabela e o Luís chegaram para ficar, mesmo que um dia decidam ir. Estarão comigo ainda que eu decida ir também. Não pensei que uma vez mais teria amigos quais amasse tanto. Nunca pensei que existia essa tal amizade incondicional e só desejo que ela dure...

     Nunca sou capaz de me resumir, mas todo esse texto enorme é para vocês. Meus tipos singulares de raposas, goombas e sei lá o que mais. Amo vocês! 


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