domingo, 8 de setembro de 2019

O Fim dos Poetas

Perdidas no vácuo precedente à existência
Flutuavam no espaço espécies estranhas de flores
Coisa alguma tinha sua respectiva aparência
Ainda surgiam discretamente as primeiras cores
Um grito de ninguém ecoou de maneira serena
Vibrou na existência inexistente o primeiro poema
Qualquer coisa como magia
Antes do primeiro dia de tudo já nascia
Em 173 antes do nascimento do planeta
Houve uma explosão onde tudo foi exposto
Três mil e cem anos depois abri uma gaveta
E nela achei o meu verdadeiro rosto
Chamei-o de meu e chamei-a de alma
A última lembrança por volta de 1992
Explodi em uma fúria que nunca se acalma
Até que arrefeci e deixei a ira para depois
Ensinaram-me dentro de minha casa
Certas coisas certamente importantes
Aprendi a amar sob um confortável teto
Garoto curioso que não se contentava
Desprovido de ambições, mas sem ideias rasas
Oscilava entre seriedade e princípios infantes
Fui e sou próximo de qualquer coisa que dizem inexistente
Continuo por perto, pois sinto tudo o que me sente
Amigo do vento, das plantas e insetos
Flamejante, mas apenas brasa
Confiante, mas demasiado reto
Chama acesa que nunca se apagava
Na predominância da suavidade
Eu era puro concreto
Em 2000 e qualquer coisa fui triste
A Existência me humilhava de repente
Mantenha sua espada em riste, pois
Nenhum dano é permanente
Quando a gente é capaz e insiste
Combate tudo por um eternamente
que talvez faleça ao pôr do sol
Qual talvez se esqueça escondido no lençol
Caí e me levantei e caí de novo
De novo caí e me levantei vagaroso
Mais uma vez levantei apenas para cair
Ouvi de longe um cachorro latir
Lamentei o meu estorvo
Quase desisti de tudo por volta de 2018
Mas a vida é tão cruel quanto bela
Errei tantas vezes por ser afoito
Li meu destino ao fundo de uma tigela
De Nescau Cereal
Veja como a vidência é algo irracional
Você possui exatamente Nada
O que se perde quando está por um triz?
Não é percorrendo as mesmas estradas
que achará o caminho para ser feliz
Sincronicidade em sintonia
Não me vejo feliz, mas transbordo alegria
Às 22h22 em 29 de junho de 2019 no Brasil
Já era dia 30 lá no Japão
Tudo o que ontem a gente sentiu
Num tempo longínquo não gera a menor comoção
Tenha cuidado, mas não se afaste
Sempre que a vida gritar sobre os riscos e perigos
Às vezes é num jogo improvável que iniciaste
que fará verdadeiros e novos amigos
Alguns anos depois e ao último suspiro
O sentimento é de sorte, pois naquelas épocas
Ainda era inevitável receber o beijo da morte
A humanidade cometeria o erro
de impedi-la posteriormente
É o fim que define o rumo a se seguir
E determina a firmeza do que se sente
Em 2173 depois de Cristo o amor ainda existia
Embora tivessem sido extintos os poetas
Era um futuro onde todos de tudo sabiam
Todos os seres transformados em ascetas
Como, porém, podem não acreditar?
Eu perguntava aos homens futuristas
Se não existe vida sem o amor?
Suas faces repulsavam num esgar
Seguido por sorrisos matreiros de vigaristas
Cada um escolhe sua ilusão e sabor
Em 2425 depois de mim
Já não havia planeta Terra
A vida no planeta acabara, enfim,
Depois de resistirmos à Quarta Guerra,
Dentre os destroços e corpos queimados
Dentre pilhas de ossos e sonhos carbonizados
A personificação da mortalha e 
um vulto eterno de destruição
É um sonho que já vivi algum dia
Mataram os poetas, mas não a poesia
Resistiremos até a última respiração
Sobreviveremos (ainda que mortos)
Até as batidas findas do último coração...

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